Título: Caixa ganha espaço entre pessoas jurídicas
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/06/2006, Finanças, p. C1

O plano traçado pela Caixa Econômica Federal, em 2004, para aumentar sua presença no mercado de atendimento a pessoas jurídicas, está dando certo. Como o resto do sistema financeiro, a instituição também viu crescer sua carteira de crédito a pessoas físicas. Mas foi nas operações com empresas, onde não tinha tradição, que o banco deu o salto mais expressivo nesses dois anos. Em relação ao que era no final de 2003, o estoque dessas operações cresceu 116,7% até final de 2005, desempenho bem superior à média do sistema (30,5%).

"Não foi por acaso. Houve um esforço deliberado e planejado nesse sentido", diz Francisco Egídio Pelúcio da Costa, vice-presidente de Crédito da Caixa. Entre as estratégias para alavancar a carteira de PJ, ele destaca as parcerias com segmentos específicos, a mais recente com o setor de franquias. Até o fim de 2006 mais uma será implementada: o ingresso no mercado de Crédito ao Consumidor com Interveniência (CDCI), no qual o financiamento é fechado no ponto de venda da mercadoria, pelo próprio estabelecimento comercial.

Quatro parcerias envolvendo esse tipo de relacionamento já estão sendo negociadas com redes de lojas e supermercados, revela Pelúcio. Ao mesmo tempo em que servirá para incrementar a carteira de crédito a pessoas físicas, a entrada nesse negócio foi planejada principalmente como forma de ampliar a presença do banco no segmento de pessoas jurídicas. É que, além de terem sua clientela financiada pelo banco, esses estabelecimentos comerciais também passarão a ser clientes e a usar serviços e produtos da Caixa.

O banco busca entrar no CDCI por intermédio de um nicho ainda pouco explorado pelos maiores concorrentes, as redes de lojas e supermercados sem projeção nacional mas com forte presença regional. O vice-presidente explica que o ingresso nesse mercado permitirá à Caixa ampliar presença sobretudo no segmento de médias e grandes empresas. Ele destaca que os potenciais parceiros da Caixa no CDCI são redes regionais de grande e médio porte.

Logo que decidiu disputar uma fatia maior de mercado no segmento de operações comerciais com pessoas jurídicas, em 2004, a primeira preocupação da Caixa foi automatizar e tornar mais rápidos os processos de contratação de crédito para capital de giro. Assim, surgiu, por exemplo, o GiroCaixa Fácil, linha que pode ser contratada via internet. Linhas para investimento também foram padronizadas e passaram a ter liberação mais rápida. Pelúcio lembra que qualquer agência da Caixa opera com todos os produtos disponíveis para pessoas jurídicas.

Os acordos com setores específicos da economia também foram fundamentais para o desempenho dos últimos dois anos. A partir dessas parcerias, a Caixa conseguiu desenhar produtos com características especiais, adequados a demandas específicas. Um exemplo é o Credfrota, destinado à renovação de frota das locadoras de automóveis, que resultou de um acordo com a Abla, associação que representa o setor.

Houve acordo também com o setor de construção civil. As construtoras já estavam acostumadas a tomar crédito imobiliário e para projetos de saneamento e infra-estrutura. Mas pouco usavam o banco para operações de crédito da carteira comercial, como capital de giro. Esse relacionamento se intensificou desde 2004. "No segmento da construção civil, a estratégia foi atender às necessidades de antecipação do fluxo de recebíveis das empresas", diz.

Posteriormente, foram firmadas parcerias com grandes fabricantes de equipamentos de diagnóstico por imagem (raio-x, ecografia), para a criação de linhas de financiamento a hospitais, clínicas e profissionais de saúde. Os fabricantes são General Electric, Kodak, Siemens e Toshiba.

A mais recente parceria para a criação de linhas dedicadas a segmentos específicos foi firmada com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), no início de junho. Para franqueados e franqueadores já estabelecidos, a Caixa financia o giro e a ampliação de negócios. Também vai atender a quem deseja investir na instalação de uma franquia. Nesse caso, explica Pelúcio, o banco vai firmar convênios com franqueadores para que eles direcionem potenciais franqueados a buscar financiamento. Os franqueadores necessariamente fazem uma análise prévia da condição do interessado. Isso poupa parte do trabalho da Caixa.

Para 2006, a caixa espera um crescimento superior a 50% no saldo de suas operações comerciais com empresas. A expectativa é de que o estoque, que era de R$ 5,2 bilhões ao final de 2005, atinja R$ 8,1 bilhões até dezembro.

O fluxo de novas concessões de créditos no âmbito dessa carteira também tem aumentado expresivamente. Em 2005 o valor chegou a R$ 16,4 bilhões, o que representou aumento de 198,2% em relação ao volume concedido em 2003. O orçamento da Caixa para 2006 prevê R$ 25,7 bilhões em novas operações, R$ 8,9 bilhões dos quais já emprestados até maio.

A base de clientes pessoas jurídicas do banco, que era de aproximadamente 450 mil no final de 2003, alcançou em maio 990 mil. Pelúcio destaca que cerca de 10% deles são empresas de médio e grande porte. Essa participação era até há pouco tempo de apenas 2%. (MI)