Título: PT critica BC e diz que obra de Lula é desigual
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2006, Política, p. A10

No documento "Diretrizes para a Elaboração do Programa de Governo", divulgado no fim de semana, o PT voltou a bater duro no Banco Central e a pedir uma queda mais acelerada dos juros. Segundo o documento, elaborado pela Comissão Política do Diretório Nacional, o BC tem que adequar sua agenda "ao conjuntos dos interesses da sociedade", levando em conta não apenas a inflação, mas o crescimento, o emprego e o bem-estar social.

No balanço que fizeram da gestão Lula até o momento, os petistas dizem que foi justamente na gestão macroeconômica que o governo encontrou dificuldades para superar o que chamam de paradigma "neoliberal". O documento, elaborado com a ajuda de um assessor direto do presidente Lula - Marco Aurélio Garcia -, critica a independência do BC.

"A 'autonomia operacional' do BC, maior do que em períodos anteriores, permitiu uma política monetária - revestida de um discurso conservador - que se chocou, mais de uma vez, com as bases sociais do governo e com o próprio governo", diz um trecho do documento de dez páginas. "Taxas de juros elevadas foram as únicas soluções encontradas pelo BC para o necessário controle da inflação. As metas de inflação, por sua vez, foram definidas pelo Conselho Monetário Nacional, sem levar em conta opiniões vocalizadas pelos mais variados setores da sociedade, especialmente os trabalhadores e os empresários dos setores produtivos."

O PT fez um balanço positivo do governo Lula na área social e mesmo na condução da economia, atribuindo a ela a superação da crise de 2002 e 2003, mas atacou com grande veemência vários aspectos da política econômica, como os juros e a geração de superávits primários. O partido lembra que, nos últimos três anos, a economia brasileira cresceu bem menos que o mundo, os países latino-americanos e as nações emergentes. "A obra do governo Lula é ainda parcial, desigual e incompleta", diz o PT.

O documento dedica sete páginas à avaliação da gestão Lula e apenas três às diretrizes que deverão nortear a elaboração do programa de governo do PT. Os petistas reconhecem que as propostas são do partido, portanto, não deverão ser necessariamente adotadas num possível segundo mandato de Lula. Em geral, são idéias vagas sobre o que deverá ser feito.

No item "crescimento", os petistas defendem que, para expandir de forma sustentada, o país terá que desenvolver uma "estrutura de financiamento do investimento privado", calcada, principalmente, na ação de bancos estatais. No quesito "distribuir renda", o PT afirma que "as políticas de transferência de renda por meio do Estado serão necessárias por muito tempo" e que elas só desaparecerão quando se constituir no país um Estado do Bem-Estar Social.

No que diz respeito à "estabilidade macroeconômica", os petistas dizem que combater a inflação é "fundamental", mas defendem que o BC, na realização de seus objetivos, vá além do papel de "guardião da moeda". "Será necessário acelerar o esforço atual de reduzir os juros, para permitir ao país uma expansão mais pronunciada. Uma maior redução da taxa Selic é essencial para lograr-se um câmbio mais compatível com as políticas de desenvolvimento e exportação necessárias ao país", explica o documento.