Título: Para Meirelles, economia passará ao largo da sucessão presidencial
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2006, Política, p. A10

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ontem em um almoço com empresários da Câmara de Comércio Franco-Brasileira que a economia não será afetada pela sucessão presidencial este ano da forma como ocorreu em 2002. "As discussões de medidas futuras para a economia hoje estão em outro nível, outro patamar", afirmou o dirigente. Ruy Baron/Valor - 21/2/2006 Meirelles: "A trajetória (dos juros) é cadente. À medida em que a inflação ancore na meta, isto vai contribuir para que a taxa, no longo e no médio prazo, caia"

Segundo Meirelles, há quatro anos os indicadores eram piores e o foco do debate econômico estava em como gerenciar crises de confiança. Com a diminuição da vulnerabilidade da economia, o centro das discussões teria passado a ser as estratégias para induzir o crescimento da economia.

O presidente do Banco Central comentou o impacto da sucessão presidencial respondendo a uma pergunta do presidente no Brasil do Banco Societé Générale, François Dossa, que indagou sobre a possibilidade de se repetir o quadro de quatro anos atrás, quando houve desvalorização do real, alta da inflação e aumento do risco-país. O executivo francês pareceu se convencer.

"A eleição deste ano não vai impactar em nada a economia, porque o país já passou pelo seu maior teste, que foi a substituição do ministro da Fazenda. Palocci saiu, nada aconteceu e não vai acontecer", disse Dossa. Segundo o executivo, a economia brasileira se internacionalizou o suficiente para estar mais vinculada à conjuntura internacional do que à doméstica.

Durante o almoço, Meirelles traçou um cenário róseo sobre o comportamento da economia do país. De acordo com o presidente do Banco Central, as expectativas do mercado em relação à taxa de inflação deste ano já convergiram para a meta de 4,5% estipulada pelo governo. Este dado permitirá, segundo Meirelles, que o Banco Central continue a estratégia de redução gradual da taxa básica de juros (Selic). "A trajetória é cadente. À medida em que a inflação ancore na meta, isto vai contribuir para que a taxa, no longo e no médio prazo, caia", afirmou.

Ainda compondo o cenário otimista, Meirelles afirmou que o Brasil se encontra em um momento de superávit comercial crescente e taxa de desemprego declinante. O presidente do Banco Central procurou desvincular o crescimento econômico de apenas 2,3% em 2005 da política adotada pelo Banco Central de altas taxas de juros.

"No ano passado, houve um descasamento entre o crescimento do PIB e o crescimento da demanda agregada, que foi de 3,2%. Se olharmos este dado da demanda, veremos um ajuste menos dramático do que parece. Isto indica que houve crescimento forte do consumo, sem correspondência na produção, por uma quebra de safra e um ajuste dos estoques", disse.

A conclusão é que, apesar do resultado fraco do PIB, a economia teria se mantido aquecida no ano passado, o que teria se refletido na geração de empregos formais, segundo Meirelles. "A criação de empregos formais, segundo o Ministério do Trabalho, foi de 33 mil entre os anos de 1995 e 2002, enquanto entre 2004 e 2006 subiu para 1,2 milhão por ano", disse o dirigente, excluindo do comparativo o ano de 2003, em que o crescimento econômico foi muito próximo de zero.