Título: Desembolso de crédito rural deve se recuperar
Autor: Veloso, Tarso
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2011, Especial, p. A14

Primeiro indicativo financeiro do ânimo dos produtores rurais, o desembolso de crédito rural nos dois primeiros meses do atual ano-safra (2011/12) alcançou R$ 17 bilhões. Em relação ao mesmo bimestre da temporada anterior (2010/11), quando foram liberados R$ 20,4 bilhões, houve retração de 16,6%. Apesar disso, o governo estima superar, até junho do ano que vem, o recorde de todo o ciclo passado, quando os desembolsos somaram R$ 94 bilhões.

O desempenho inicial, portanto, não indica necessariamente uma tendência negativa para a ampliação das lavouras e novos investimentos, segundo avalia o diretor de Agronegócios do Banco do Brasil, Ives Cézar Fülber. Conforme a instituição, a redução no ritmo de empréstimos nos dois primeiros meses da safra 2011/12 reflete, em grande medida, a extinção da linha de crédito Procer, responsável por R$ 2,872 bilhões em 2010/11. A linha, criada exclusivamente para financiar agroindústrias com juros subsidiados no ano-safra anterior, não está mais disponível agora.

O BB confirmou que seus desembolsos totais aumentaram 19,1%, passando de R$ 6,530 bilhões entre julho e agosto do ciclo anterior para R$ 7,778 bilhões nos dois meses deste ano - acima do crescimento médio previsto para 2011/12 como um todo, de 17%.

Outro motivo para a retração observada foi a queda de repasses da linha de crédito BB Agroindustrial, que emprestou R$ 2 bilhões em julho e agosto da safra passada e no mesmo período deste ano só desembolsou R$ 180 milhões. O banco acredita que tem demanda para mais R$ 2 bilhões até o fim do ano. A diminuição dos repasses já era esperada. "Os empréstimos nessa linha são realizados para dois anos. Ou seja, quem pegou empréstimos para a safra 2010/11, que totalizou R$ 10 bilhões em repasses, ainda está capitalizado hoje", explicou Fülber ao Valor.

Ao todo, o Banco do Brasil ofertará R$ 45,7 bilhões para operações de crédito rural na safra 2011/12, 17% a mais que na safra anterior. Do total, R$ 10,5 bilhões financiarão a agricultura familiar e R$ 35,2 bilhões atenderão aos agricultores empresariais e cooperativas rurais, um incremento de 20% e 16%, respectivamente, na oferta de crédito.

Em 2010/11, o desembolso total do crédito rural foi de R$ 94 bilhões, ou 94% do total programado para o ciclo agrícola. Foi o melhor desempenho já registrado desde a safra 1999/00, período em que o governo iniciou o levantamento. O crescimento de desembolso da safra 2010/11 foi de 8,6% ante a safra anterior, quando foram liberados R$ 86,7 bilhões nas linhas de custeio, comercialização e investimento no setor.

Foram desembolsados pelo Banco do Brasil, no ciclo 2010/11, R$ 39 bilhões, evolução de 12% em relação à safra 2009/10. Para a agricultura empresarial foram aplicados R$ 30,2 bilhões e para a agricultura familiar, R$ 8,8 bilhões.

A participação do BB na safra 2010/11, levando em conta o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) no financiamento ao setor, somou 73% nos créditos destinados à agricultura familiar, 77% ao médio produtor rural e 40% aos demais agricultores.

Segundo o gerente-executivo da diretoria de Agronegócios, João Pinto Rabelo Júnior, o governo se preocupou, no atual ano-safra, em garantir mais dinheiro para três linhas: agricultura de baixo carbono, cooperativismo e inovação tecnológica.

Um exemplo, de acordo com Rabelo Júnior, é o programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que incentiva processos tecnológicos que neutralizam ou minimizam os efeitos dos gases de efeito estufa no campo. Os recursos para a safra 2011/2012 somam R$ 3,15 bilhões, sendo somente R$ 850 milhões do Banco do Brasil. O governo garantiu, dentro do plano, recursos a agricultores e cooperativas, com limite de financiamento de R$ 1 milhão por beneficiário. O crédito será financiado com taxa de juros de 5,5% ao ano e prazo de reembolso de até 15 anos.