Título: Governo estuda medidas para reduzir oferta de dólar
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2004, Brasil, p. A3
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, afirmou ontem acreditar em uma valorização do dólar, que voltaria a oscilar em torno de R$ 3,00 no próximo ano. Ele explica que estão em estudo, no Ministério da Fazenda, algumas medidas para reduzir a oferta de moeda estrangeira no curto prazo. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, afirmou ontem acreditar em uma valorização do dólar, que voltaria a oscilar em torno de R$ 3,00 no próximo ano. "Acho que o dólar vai se acomodar em uma situação um pouco melhor", disse Furlan, que participou ontem do seminário "Novos Destinos para as Exportações Brasileiras", promovido pela Agência de Promoção de Exportações (Apex) e pelo Valor. "Um pouco melhor seria o que perdurou durante 2004, quando houve uma oscilação ao redor de R$ 3,00, entre R$ 2,85 e R$ 3,15", completou, acrescentando que somente nesse final de ano a moeda americana caiu ao patamar de R$ 2,70. Segundo o ministro, uma das medidas em análise pela Fazenda é a extensão do prazo dado pelo Banco Central aos exportadores para a internalização das receitas obtidas em moeda estrangeira. Furlan acredita que essa questão será solucionada até o fim de dezembro e afirma que o ministro, Antonio Palocci, tem sido "muito compreensivo". "Os exportadores pedem um prazo mais alongado, pois, dessa forma, não precisariam internar tão rapidamente as divisas, a oferta de dólares diminuiria e tenderia a haver uma melhora na cotação", avalia Furlan. Após receber pela venda de uma mercadoria no exterior, o exportador tem 20 dias para internalizar essas divisas comprando dólares no mercado interno. "Essa obrigatoriedade e esse prazo criam uma pressão artificial sobre o câmbio", opina José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB). Para o executivo, um prazo mais longo melhoraria a rentabilidade das empresas. O exportador poderia avaliar as taxas de câmbio e aproveitar uma eventual valorização do dólar no período. Há também a vantagem fiscal: depois de internalizados e aplicados no mercado financeiro nacional, esses recursos são passíveis de tributação. Furlan também sugere que o governo compre dólares para recompor as reservas internacionais do país, minimizando a valorização do real, que está prejudicando a rentabilidade das exportações. "Se todo mundo acha que o dólar está barato, seria o momento de comprar", diz. O Banco Central comprou dólares ontem e provocou uma alta da moeda americana, que fechou cotada a R$ 2,719. Questionado pela manhã se o BC deveria intervir no mercado, Furlan respondeu que "as reservas são um tema que extravasa o BC", pois se trata de "uma decisão política e econômica que passa inclusive pelo gabinete do presidente". Para o ministro, o aumento das reservas do Tesouro resultaria numa redução do risco-Brasil, o que, por sua vez, contribuiria para baixar as taxas de captação. O Tesouro Nacional anunciou recentemente a compra de US$ 3 bilhões até junho de 2005. Mas, por conta do baixo volume de recursos e do longo prazo, a medida teve impacto nulo no mercado financeiro. Furlan acredita que "2004 é um campeonato ganho" e diz que o governo "está, na prática, com os olhos voltados para 2005, pois o cenário é de dificuldades". O ministro frisou que "2005 não será parecido com 2004" em relação ao desempenho do comércio exterior. Ele teme que a performance das exportações seja prejudicada pela queda dos preços agrícolas, pelos gargalos da infra-estrutura e pelo câmbio. O ministro mantém o objetivo de exportar US$ 100 bilhões em 2005, mas diz que a meta é "modesta", pois o país já deve atingir US$ 94 bilhões esse ano.