Título: Brasil rejeita proteção especial para têxteis
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 21/06/2006, Brasil, p. A4

O Brasil ficará radicalmente contra a proposta da Turquia de adotar uma proteção especial para o comércio de têxteis e confecções, tema que provoca confronto entre os países membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) às vésperas de reuniões cruciais sobre o destino da Rodada Doha.

"Somos contra, a negociação na OMC é para abrir comércio e não para fechar", disse ontem o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ao mesmo tempo em que a União Européia (UE) e os Estados Unidos ampliavam a divergência sobre a questão.

Temendo a concorrência da China, a Turquia insiste com uma idéia de tratamento diferenciado para o setor, que significa na prática cortar menos as tarifas do que nas outras áreas industriais. O país propõe que a redução tarifária para têxteis e confecções seja feita por uma média, não se aplicando assim o percentual de corte eventualmente previsto na fórmula que está sendo negociada. Disfarçada de flexibilidade para países em desenvolvimento, a proposta é vista por certos negociadores como uma manobra para preservar os picos tarifários aplicados pelos países industrializados.

A Turquia é o maior fornecedor de produtos têxteis para a UE, com seus produtos entrando livre de tarifas. Atualmente, 33% das importações de camisetas na Europa procedem da Turquia, comparado a 5% da China e 0,5% do Brasil.

Mas se a negociação na OMC já cortar 5% nas alíquotas européias, os turcos vão enfrentar maior concorrência, sobretudo dos chineses. Por isso sua proposta de um acordo setorial para liberalizar menos, quando esse tipo de iniciativa é para liberalizar mais rapidamente.

Após apresentar sua proposta, em maio, a Turquia obteve apoio de pequenos produtores como Bangladesh e América Central, que também têm preferências para entrar com seus têxteis e confecções nos Estados Unidos, e têm pouco interesse em queda de tarifas nesse mercado.

A surpresa veio com o endosso dado pelo governo dos Estados Unidos, ao defender agora na OMC uma "consideração especial" para o setor. Diretores da associação de indústrias têxteis americanas dizem que isso dá um sinal de tranqüilidade para as companhias americanas e do Caribe, África e América Latina, cujo acesso especial aos EUA perde valor se a liberalização negociada em Genebra for significativa.

A UE reagiu, ainda mais que só recentemente esse setor do comércio mundial foi liberalizado, com o fim de cotas, que limitavam as exportações para vários países industrializados. E disse que a tendência deve ser de maior abertura.

A China e a Índia também já reagiram contra, ainda mais que a proposta turca é vista como um "animal estranho". As discussões vão prosseguir e podem envenenar ainda mais o ambiente na OMC quando se busca um acordo sobre como cortar as tarifas industriais. (AM)