Título: Meirelles defende meta atual mesmo com queda da expectativa de inflação
Autor: Mônica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 21/06/2006, Finanças, p. C2
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, entende que a queda de expectativas inflacionárias detectada pelas pesquisas da instituição junto ao mercado, nas últimas semanas não justifica mexer em metas já fixadas para a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Questionado se isso não exigiria uma revisão, ele defendeu ontem que a política monetária continue a ter como alvo uma inflação anual de 4,5%, em 2006 e 2007. Embora Meirelles tenha evitado confirmar, a manutenção dessa meta também para 2008 é praticamente um consenso dentro da equipe econômica.
A diretriz da política monetária para 2008 será oficialmente definida no próximo dia 28, durante reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN). Independente de qual seja o patamar de inflação perseguido, ao falar para a Comissão Mista de Orçamento do Congresso (CMO) e outras cinco comissões da Câmara e do Senado, Meirelles deu algumas outras sinalizações importantes.
Uma delas diz respeito ao índice de preços que serve de referência para o sistema de metas inflacionárias no Brasil. Perguntado pelo deputado Sérgio Miranda (PDT-MG) sobre a possibilidade de o governo seguir o exemplo de outros países e passar a usar núcleos inflacionários, ele defendeu que se continue a usar o IPCA "cheio", isto é, sem expurgo. Na sua avaliação, a opção por um núcleo não seria o problema e sim o fato de mudar a referência da meta.
Meirelles demonstrou ainda ser favorável à fixação, mais uma vez, de um intervalo de tolerância. "Não existe uma experiência de inflação linear. O importante é que a inflação oscile em torno da meta", disse. Ele não revelou, porém, se o intervalo continuaria o mesmo ou se seria reduzido. Para 2006 e 2007, a tolerância é de dois pontos percentuais, para cima e para baixo.
Pela terceira semana consecutiva, a última pesquisa semanal feita pelo Banco Central junto a bancos e empresas acusou queda da mediana das projeções de mercado para a variação do IPCA em 2006, de 4,22% para 4,17%, nível inferior à meta. Especificamente entre as cinco instituições que mais têm acertado, a mediana, que já estava em 4,17%, caiu para 4,01%, nos modelos de previsão de médio prazo. Como as expectativas ainda estão no intervalo de dois pontos, Meirelles não vê motivo para que sejam alteradas as metas já estabelecidas.
O presidente do BC aproveitou a audiência na CMO para responder às críticas do candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, segundo quem o BC foi "covarde" ao não promover uma redução mais acentuada de juros. Para Meirelles a política monetária "não demanda valentia ou covardia; demanda responsabilidade". Ele disse ainda que o Brasil ficou menos vulnerável a instabilidades do mercado externo ao trocar dívida externa por dívida interna, mesmo que a um custo aparentemente mais alto. Ele destacou que, graças a isso, mesmo com as turbulências das últimas semanas, "as expectativas inflacionárias continuaram ancoradas nas metas. Houve desvalorização cambial mas em patamar aceitável".
O pagamento antecipado de dívida externa, em especial a com o Fundo Monetário Internacional, também foi alvo das críticas de Alckmin ao governo. Meirelles destacou que, apesar de isso ter aumentado a dívida mobiliária federal interna, a dívida líquida do setor público, principal indicador de solvência fiscal, vem caindo proporção do PIB.