Título: Gleisi usa combate à corrupção para atrair senadores independentes
Autor: Exman, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2011, Política, p. A8

A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, começou a construir uma ponte entre o Palácio do Planalto e os senadores que criaram uma frente em defesa da continuidade do combate à corrupção. Senadora licenciada pelo PT do Paraná, Gleisi ouviu dos seus ex-colegas de Parlamento que o governo receberá apoio do grupo se for abandonado por integrantes da base aliada ao patrocinar novas medidas para sanar irregularidades na máquina pública. O grupo de senadores, entretanto, permanece fora da base aliada.

A ideia surgiu após uma reunião da ministra com o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) realizada há cerca de um mês, quando o parlamentar sugeriu que a ministra recebesse o grupo. O encontro materializou-se na quinta-feira. Almoçaram com Gleisi os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Pedro Simon (PMDB-RS) e Pedro Taques (PDT-MT), além de Cristovam. Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) também foi convidado, mas não compareceu. Por questões políticas locais, preferiu evitar dar margem à interpretação de que está se aproximando do PT.

"Saiu na imprensa que, se ela [presidente Dilma Rousseff] continuasse a faxina, perderia apoio. Então, tem um grupo disposto a dar apoio", comentou o senador Cristovam Buarque. "Eles [Palácio do Planalto] não podem ficar limitando-se a contatar apenas os líderes partidários e o PMDB. Eles têm que aumentar a base, se não de apoio, de conversa e de diálogo."

O encontro demonstra como Gleisi, convidada por Dilma para assumir a Casa Civil com a missão de coordenar a gestão do governo, também movimenta-se discretamente na articulação política do Executivo. A atividade é concentrada nas mãos da ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) desde a queda de Antonio Palocci, que mantinha na Casa Civil o controle dos contatos do Palácio do Planalto com o Congresso e os partidos políticos.

"A ministra queria ouvir o que nós estamos pensando do governo, as ideias e as propostas desse grupo de parlamentares suprapartidário", disse Randolfe Rodrigues, acrescentando que Gleisi colocou-se à disposição para novos contatos. "Toda vez que a presidente se sentir pressionada pela sua base parlamentar porque tomou medidas de combate à corrupção ela contará com o nosso apoio. Não se trata de adesão. Fomos dialogar com o governo sobre uma agenda de combate à corrupção."

No encontro, os senadores criticaram o atual sistema de liberação de emendas parlamentares ao Orçamento. Afirmaram, por exemplo, que atualmente não há total controle na execução das emendas, as quais em sua maioria são liberadas apenas se seus autores derem suporte ao governo no Congresso. Os senadores também pediram o fortalecimento da Corregedoria-Geral da União (CGU) e da Polícia Federal (PF).

Por sua vez, os parlamentares pediram apoio do Palácio do Planalto para a votação de projetos que já tramitam no Senado e que podem ajudar a reduzir os casos de malfeitos com os recursos públicos. Um deles, de autoria de Pedro Taques, inclui a corrupção na lista de crimes hediondos.

Outro exemplo citado foi a proposta de emenda constitucional que prevê o cumprimento das decisões judiciais a partir dos julgamentos feitos em segunda instância, a qual reduz a margem para manobras protelatórias na Justiça. A ideia também é defendida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Cezar Peluso. A frente de senadores pelo combate à corrupção tem ainda como bandeira o fim do voto secreto no Congresso.

Desde o início da administração Dilma Rousseff, cinco ministros já deixaram o governo. Quatro deles pediram demissão após enfrentarem denúncias de irregularidades. O último caso foi o de Pedro Novais, ex-ministro do Turismo, acusado de usar recursos da Câmara dos Deputados para contratar funcionários particulares. Deixaram também o governo devido a denúncias Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura) e Palocci.