Título: Negócio bancário se desloca para emergentes
Autor: Campos, José Roberto
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2011, Finanças, p. C8

Não é apenas a produção mundial que está se deslocando para os países emergentes - a indústria bancária também. Os bancos nos principais países em desenvolvimento detêm um terço das receitas globais e até 2020 obterão quase a metade delas, prevê um estudo da consultoria McKinsey, com base no desempenho dos 300 maiores bancos do mundo, alocados em 79 países. Mais: são os bancos nos países emergentes que garantirão 60% do crescimento esperado para o setor nessa década.

As fronteiras bancárias estão se movendo principalmente em direção à Ásia e Pacífico, que contribuirão com 39% da expansão esperada entre 2010 e 2020. A América Latina será responsável por 11% do crescimento, com o restante a cargo dos Estados Unidos (23%) e Europa (15%). Os bancos chineses terão 16% das receitas de US$ 6,8 trilhões estimadas para 2020, enquanto que seus congêneres emergentes obterão outros 31%.

Os países emergentes puxarão a demanda de crédito, que, pelo estudo, deverá saltar de US$ 116 trilhões agora para US$ 213 trilhões em 2020, enquanto que a taxa de investimentos também apontará para cima. Alguns números dão ideia do potencial de crescimento nas nações em desenvolvimento. Há 2,5 bilhões de adultos sem conta em banco e 250 a 300 milhões de microempresas (60% do total global) sem acesso a empréstimos bancários. Nos emergentes, há 1 bilhão de pessoas que possuem celulares, mas não cheques ou qualquer serviço bancário.

As instituições bancárias localizadas fora da América do Norte e Europa Ocidental ganham peso quantitativo e qualitativo rapidamente. A comparação com os bancos americanos e europeus, depauperados pela crise nos últimos anos, tenderia naturalmente a ser favorável aos emergentes. Mas os indicadores da performance dos tradicionais bancos dos países desenvolvidos mostram, de acordo com o estudo, que eles já claudicavam antes mesmo da debacle de 2008.

Os bancos europeus e americanos melhoraram seus resultados em 2010 e primeiro trimestre deste ano, mas ainda assim estão abaixo de 2007, antes que a crise estourasse. As receitas totais, na comparação entre 2010 e 2007 foram 3,5% menores para os bancos americanos e 4,5% menores para os japoneses. Bancos franceses e alemães não chegaram sequer à media mundial de 2,5%, embora tenham tido receitas maiores. Quem fez a diferença foram bancos nos Bric. As instituições russas mostraram expansão nesse item de 21,2%, as indianas, de 19,8%, as do Brasil, 17,6% e as da China, de 13,7%. Nos demais emergentes, as receitas cresceram 10,5%. Dos países ricos, só os bancos canadenses chegaram perto, com avanço de 9,1%.

Em 2010, os resultados dos bancos emergentes batiam os dos países ricos em várias frentes. Tinham, por exemplo, custos menores (relação entre despesas operacionais e receitas totais sem provisões) e maiores retornos sobre patrimônio (19,6% ante 7,9%).

Mas enquanto os mercados emergentes estão em franco crescimento, as economias maduras estão estagnadas e seus bancos enfrentarão obstáculos muito grandes para crescer e competir. A crise está levando os consumidores endividados a se tornarem poupadores - a tendência é de menor demanda por crédito e maior poupança. "Na média, a indústria bancária será menos lucrativa", aponta o estudo. Embora a tendência seja geral, encontra as instituições dos países ricos debilitadas por fatores estruturais e conjunturais. Elas terão, por exemplo, de enfrentar um aumento da regulação que lhes trará necessidade extra de capital de US$ 1,5 trilhão para acompanharem as exigências de Basileia 3.

E, para poderem se aproveitar da maior demanda por crédito e investimentos globais, precisarão de mais capital ainda. O problema é que o retorno que estão obtendo, de 9,2% para as instituições americanas e 9,3% para as europeias em 2010, está abaixo do custo do capital, estimado em 12%. Para fechar este "hiato de retorno", os bancos americanos terão de elevar seus lucros líquidos de US$ 121 bilhões em 2010 para US$ 312 bilhões em 2015, o que se traduz numa taxa de crescimento dos ganhos de quase 20%. Os bancos europeus teriam de dobrar os lucros de US$ 166 bilhões para US$ 328 bilhões no período.

No ranking por capitalização da McKinsey, o Itaú Unibanco é o décimo colocado entre os 100 maiores, com um retorno sobre patrimônio acumulado entre 2000 e 2010 de 22,6%, superior ao das nove instituições à sua frente e um dos melhores do mundo. O Bradesco, o 16º colocado, não fica muito atrás e teve rentabilidade de 20,8% no período. Ambos perdem, nesse ponto,. para o Banco do Brasil, 26º no ranking, com 27,2% de retorno - o mais rentável dos 100 maiores.