Título: PFL sela aliança e assume artilharia
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2006, Política, p. A7

O PFL oficializou ontem, em convenção nacional, a coligação nacional com o PSDB em torno da candidatura do ex-governador paulista Geraldo Alckmin à Presidência da República, sem esconder as divergências eleitorais com o parceiro em vários Estados. Enquanto os discursos foram marcados por ataques ao governo Luiz Inácio Lula da Silva - chamado por pefelistas de "ladrão", "traidor da pobreza", "nordestino desnaturado" e "conivente com corruptos", nos bastidores o PSDB era o principal alvo de críticas.

As mais duras partiram do prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia. Segundo ele, as lideranças estaduais do PFL não têm interlocutor na coordenação da campanha nacional, que descuidou das costuras eleitorais nos Estados. "O PSDB tem, de um lado, os cardeais e, de outro, o baixo clero. Cada um trata dos seus assuntos e não existe articulação entre eles", disse. "Se quisermos contatar a campanha nacional para discutir um problema eleitoral do Rio, não sabemos a quem procurar", continuou.

Para o prefeito, essa falta de articulação com as campanhas estaduais pode, segundo ele, custar a derrota do tucano. "Se não tivermos uma boa sinergia entre a instância federal e a estadual, podem faltar 2% ou 3% de votos para Alckmin. E se faltarem 2% de votos para levar a eleição para o segundo turno? É uma coisa sensível, delicada", disse Maia.

Apesar da aliança nacional, PFL e PSDB têm dificuldade de entendimento em vários Estados. Dirigentes pefelistas avaliavam ontem que os dois devem estar juntos em 14 dos 27 Estados. Em 11, a divergência é insolúvel e os partidos estarão em palanques diferentes. O PFL ainda tem esperança de um acordo em dois Estados: Sergipe e Distrito Federal. Os pefelistas responsabilizam os tucanos pelos conflitos. Isso, porque o PSDB se nega a apoiar candidatos competitivos do PFL.

"Somos mais profissionais", afirmou um dirigente do partido. Segundo ele, por "conveniência política", o PFL está apoiando o PSDB nos Estados em que os candidatos tucanos são fortes, como Minas Gerais e São Paulo. "Um candidato forte a governador ajuda o partido a eleger uma grande bancada parlamentar. Mas o PSDB fica fazendo picuinha onde o PFL é forte. Os tucanos fizeram bobagem em vários Estados e isso isola o partido. Por isso é que vamos eleger de 75 a 85 deputados federais e o PSDB, de 65 a 75", completou o mesmo dirigente pefelista.

Apesar dos conflitos estaduais, o PFL aprovou a aliança nacional com o PSDB por aclamação, em uma convenção repleta de efeitos especiais de luz, que reuniu em seu momento de maior movimento cerca de 400 pessoas. Alckmin foi anunciado ao som do Tema da Vitória - música que marcou as vitórias do piloto Ayrton Senna na transmissão da Rede Globo - e encerrou o discurso, morno, que não empolgou a platéia, sob chuva de papel picado.

O candidato acusou Lula de anunciar projetos e ações que nunca saíram do papel ou não avançaram-como a rodovia Transnordestina, a transposição do São Francisco, o projeto do primeiro emprego e a manutenção das estradas. Classificou o comportamento de Lula como uma "mentira política reiterada". Os ataques mais duros ao governo ficaram por conta dos pefelistas.

O senador Antonio Carlos Magalhães (BA) chamou Lula de "doutor na roubalheira e na incompetência", "ladrão" e "traidor da pobreza do Brasil". Disse que no Palácio do Planalto foi instalada "uma escola de cinismo".

O senador José Jorge (PFL-PE), candidato a vice-presidente na chapa de Alckmin, atacou Lula por querer "iludir o Nordeste com promessas que nunca se cumprem" e destacou seu papel de nordestino na campanha. "Não um nordestino desnaturado como Lula, que nem ao menos respeita sua extraordinária saga de emigrante", disse. José Jorge entregou a Alckmin uma lista de obras inacabadas no Nordeste e disse que sua função será lutar para que a região seja considerada prioridade nos planos de desenvolvimento.

O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), fez um discurso pautado no tema "obstinação", palavra que repetiu 18 vezes, e acusou Lula de ser conivente com a corrupção. "Política é obstinação e queremos nos declarar obstinados a impedir que a mentira e a chantagem prevaleçam neste país e que o presidente da República, conivente com os corruptores, fuja ao debate sobre os escândalos e crimes do seu infeliz governo", disse.

Entre os ataques ao governo Lula, Bornhausen citou abusos com uso do dinheiro público na aquisição do Aerolula, avião presidencial, inauguração de obras que não começaram, "hipocrisia de entregar milhões de reais ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) para invadir terras e ao Movimento pela Libertação dos Sem-Terra (MLST) para assaltar o Congresso", a "submissão" da diplomacia brasileira ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez.