Título: Petista presidirá CPI das Sanguessugas
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2006, Política, p. A7

O deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ) será o presidente da recém-criada CPI das Sanguessugas. Nem bem assumiu o cargo, o parlamentar já lamentou o período no qual a comissão vai funcionar, em pleno período eleitoral, e declarou duvidar do encerramento dos trabalhos em menos de 60 dias, como querem os líder partidários. "Será um desafio o funcionamento de uma CPI agora. Se não terminarmos em menos de dois meses, como acho que não será possível, vamos trabalhar até depois das eleições", afirmou o petista.

Biscaia foi o único petista a não recusar a indicação do líder Henrique Fontana (PT-RS) para presidir a comissão. Depois de consultar todos os demais integrantes da bancada indicados para participar da CPI, Fontana teve de recorrer a Biscaia. "Recebi uma ligação do líder, que afirmou que ninguém mais aceitaria o cargo", disse Biscaia. A indicação do parlamentar não era a favorita do governo federal. O petista é considerado independente das ordens partidárias e não deverá atender pedidos da base.

O deputado ainda precisa ser oficialmente alçado ao posto de presidente da CPI pelo plenário da própria comissão, assim que os trabalhos tiverem início. "Vou tentar trazer todos os integrantes aqui na manhã de terça-feira, antes do jogo do Brasil", afirmou Biscaia.

A briga na CPI agora é pela relatoria. PSDB e PFL reivindicam o direito de indicar o relator. Juntos, os dois partidos formam o maior bloco do Senado. Mas a maior bancada de senadores é do PMDB. E o partido não está disposto a abrir mão do posto. As definições deverão ficar para o dia da reunião da CPI. O bloco da oposição aponta o senador Jefferson Péres (PDT-AM) como o melhor nome a assumir o cargo. Os pemedebistas querem indicar um integrante do partido. A indicação cabe ao líder do partido, Ney Suassuna (PB), um dos supostos envolvidos com a máfia das sanguessugas. A quadrilha, desmascarada pela Polícia Federal, trabalhava infiltrada no Ministério da Saúde e na Comissão de Orçamento da Câmara para conseguir vender ambulâncias superfaturadas a prefeituras.

O presidente Biscaia já tem um planejamento para os primeiros dias de trabalho da comissão. "Vamos definir quem precisamos ouvir e marcaremos tudo para duas semanas", afirmou. Ele aponta os delegados da PF e os procuradores envolvidos nas investigações como os primeiros a serem ouvidos. "A partir desses depoimentos, vamos analisar documentos. Visitaremos a PF, o MP e o Supremo Tribunal Federal", disse o petista, ao fazer referência à corte responsável pelas investigações.

Terminados os trabalhos da CPI, os deputados envolvidos terão os nomes enviados ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Mas os parlamentares só deverão ver os processos finalizados no próximo ano. "Não há problema de levar os processos à próxima legislatura", afirmou Biscaia. Ciente das dificuldades de fazer deputados e senadores comparecerem durante a campanha, Biscaia mostra como pretende trabalhar. "Estarei aqui nos dias de sessão. Se os integrantes não vierem, serão desmoralizados", afirmou.