Título: Candidatura da Venezuela ao Conselho de Segurança da ONU divide a região
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2006, Internacional, p. A8

A candidatura da Venezuela a uma vaga temporária no Conselho de Segurança (CS) da ONU acabou criando constrangimentos entre países latino-americanos e acusações de que Washington estaria pressionando seus aliados a não apoiarem o pleito venezuelano.

No Chile, o Partido Democrata Cristão oficializou posição contrária à candidatura. Os democratas-cristãos formam a coalizão de governo chamada de Concertación, que junto com o Partido Socialista, da presidente Michelle Bachelet, governa o Chile desde 1990. " A Venezuela não representa os interesses de todos os países da América Latina " , disse um comunicado do partido, que se arrisca a criar um racha na condução da política externa do governo que apóiam.

" As contínuas intromissões do presidente Hugo Chávez nas recentes eleições no Peru, na Bolívia e agora no México devem ser lembradas " , disse Exequiel Silva, representante internacional do partido. Bachelet disse que o voto do Chile não está decidido e que a decisão será tomada no segundo semestre.

Os EUA negam ter pressionado o Chile e outros países latino-americanos para não votar na Venezuela, mas reiteraram que o seu candidato regional é a Guatemala.

Segundo reportagem do jornal americano " Los Angeles Times " , Washington teria condicionado o envio de pilotos de treinamento ao Chile (a quem vendeu caças F-16) ao não apoio do país à Venezuela. " A história sobre os chilenos e os F-16 é falsa " , disse o porta-voz do Departamento de Estado americano.

A vice-chanceler venezuelana, Mari Pili Hernandéz, afirmou ser " ilegítimo, desrespeitoso, vergonhoso e imoral que os EUA estejam pressionando nações amigas, nações irmãs, para irem contra um país como a Venezuela " .

Especialistas afirmam que Washington consideraria a presença da Venezuela no CS como um entrave grave exatamente na hora em que o governo Bush pretende intensificar sua ofensiva diplomática para tentar barrar o programa nuclear do Irã.

Chávez já disse repetidas vezes que o Irã tem o direito de ter um programa nuclear pacífico. Além disso, vem se alinhando a Teerã em propostas como a de utilizar o euro para vender petróleo, de criar uma bolsa alternativa para a commodity e até de construir uma refinaria com investimentos dos países, a ser edificada na Venezuela.

O Conselho de Segurança da ONU é formado por cinco membros permanentes - EUA, China, França, Rússia e Reino Unido - e dez rotativos, eleitos por dois anos, sem direito a reeleição para outro mandato consecutivo. A vaga em disputa será aberta com a saída da Argentina, no final do ano.

Os países da América Latina e do Caribe, que têm duas vagas no CS, devem eleger por consenso o representante, até outubro. Caso contrário, haveria a intervenção da Assembléia Geral da ONU. Até agora, só se colocaram na disputa a Venezuela e a Guatemala.

O Brasil ainda não divulgou oficialmente seu voto, mas já deu a entender que deve apoiar a Venezuela, o que seria " natural " , segundo Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da Presidência, por ser um país parceiro no Mercosul.

Os EUA, que não têm direito de voto, buscam atrair o apoio da América Central para a Guatelama.

(Valor Econômico, com agências internacionais)