Título: Indústrias batem recordes
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 10/09/2010, Economia, p. 11

Enquanto o Banco Central vislumbra um cenário comportado da inflação, que converge para o centro da meta, os consumidores continuam aquecendo a atividade econômica. Estimuladas pelo crédito, as compras pressionam fortemente os estoques do setor produtivo. No acumulado de janeiro a julho, as vendas da indústria bateram recorde, com um aumento de 11,4%, resultado nunca registrado. O mercado doméstico está tão robusto que, mesmo com o ano ainda longe do fim, os industriais já têm garantido um crescimento de 8,4%, número que deve ser revisto para cima nas próximas semanas, encerrando o ano também numa magnitude inédita.

Após um segundo trimestre de acomodação, a atividade industrial tomou novo impulso e, de acordo com os números da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgados ontem, praticamente todos os indicadores do setor cresceram em julho.

As vendas, na comparação com junho, avançaram 3,6%. Não fosse o aperto monetário, teríamos tido uma expansão ainda maior, avaliouMarcelo de Ávila, economista da CNI.

Os dados de emprego refletem bem esse momento de alta da indústria.

Para não deixar o ritmo da produção esfriar, as contratações estão a todo vapor e, com a chegada do segundo semestre, tradicionalmente mais forte que o início do ano, será necessário um contingente enorme de trabalhadores para que seja possível atender a necessidade de consumodos brasileiros.

Prova desse aquecimento é que as contratações de julho ocorreram acima da média histórica (0,2%). Frente ao mês anterior, elas foram 0,5% maiores e superaram o nível pré-crise (setembro de 2008) em 0,8%. São meses de crescimento quase contínuo e acredito que vamos continuar subindo, afirmou Ávila.

Emquestões de emprego, a crise ficou para trás. Todas as vagas que foram fechadas em 2008 já foramrecuperadas neste ano. Hora extra Mesmo com as contratações emalta para atender omovimento do mercado doméstico, as empresas estão sendo forçadas a pagar mais horas extras aos seus funcionários. Emjulho, os empresários aumentaram o tempo de trabalho nas fábricasem1,6%.

Ainda assim, o ritmo está inferior ao pré-crise.Mas, com a necessidade de uma produção mais aquecida, os números vão continuar em ascensão. Nos próximos meses, devem superar as estatísticas moderadas que se tornaram a regra após a quebra do banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers, em setembro de 2008, marco do recrudescimento da crise.

Esse éumdos últimos indicares a se recuperar.Mesmo assim, a expansão das horas de trabalho, no acumulado até julho, já garantiramumcrescimento de 6,4% no ano, assegurou Ávila. Em função das contratações a passos largos, a massa salarial também está avançando fortemente. Cresceu 3,6% frente a junho e 8% comparada a igual mês do ano anterior.

O rendimento real dos trabalhadores acompanhou essa trajetória de altaos salários foram incrementadosem3,1% na comparação entre junho e maio.

De 19 segmentos da indústria, apenas três venderam menos em julho de 2010 frente a igual mês doanopassado.Somenteas áreas de refino e álcool, papel e celulose e têxteis ainda estão com faturamento negativo. Todo o restante está crescendo expressivamente.

Sete ramos expandiram as vendas acima de 10%. A despeito de os números mostrarem um bom desempenho empresarial, os dados revelam que parte desses resultados se deve a uma base de comparação fraca. Em 2009, o setor colecionou uma série de indicadores negativos e, somente neste ano, conseguiu retomar o ritmo do período pré-crise.