Título: Brasil resiste em aceitar o México
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2006, Brasil, p. A4

Foi mal-sucedida, ontem, a mais recente tentativa do governo do México de ganhar a simpatia do governo brasileiro para o pedido de ingresso, como membro associado, no Mercosul. "As condições estão dadas para integrar o México como membro associado do Brasil, e seguimos insistindo nisso para ancorar nosso país, de maneira definitiva, no processo de integração latino-americana", argumentou o ministro de Relações Exteriores do México, Luis Ernesto Derbez.

O governo brasileiro insiste, porém, que o México teria de assinar, antes, um acordo de livre comércio com o bloco. "O preço para entrada no Mercosul é igual, o que pode variar são as condições de pagamento, os prazos (para o livre comércio)", comentou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ao relatar o que havia respondido a Derbez.

Em entrevista ao Valor, o chanceler mexicano pediu a Amorim e ao assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, que considerassem suficientes, para aprovar o México como membro-associado ao Mercosul a partir de julho, os acordos de preferências comerciais já assinados pelo país com os quatro sócios plenos do Mercosul. Só o Brasil resiste à idéia, afirma ele.

Para Derbez, o maior interesse do México no Mercosul é pertencer a uma "estrutura de integração que inclui, não só a parte econômica, mas também a política, de importantes discussões geopolíticas". Embora resista a iniciar agora uma negociação para um acordo de livre-comércio mais amplo, pelas resistências provocadas no setor privado de ambos os países, o México continua acreditando na necessidade de formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). O acordo, diz ele, aumentar a competitividade dos países latino-americanos no maior mercado, os Estados Unidos.

A maior competição dos latino-americanos no mercado dos EUA não está na região, mas na China e na Índia, comenta o chanceler mexicano. Hoje, explica, os acordos fragmentados firmados pelos EUA na região (Nafta, com Canadá e México, Cafta, com os centro-americanos), impedem que indústrias de um país do continente aproveitem plenamente o uso insumos de países da vizinhança para vender, sem tarifas de importação aos Estados Unidos. Ele acredita que um acordo continental, como a Alca, facilitaria a venda de insumos do Mercosul para fábricas no México voltadas à exportação aos EUA.