Título: PSDB propõe um "choque de gestão"
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2006, Política, p. A7

Os próximos discursos do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, deverão ser baseados nas diretrizes divulgadas pelo partido no domingo. Sem metas de índices econômicos e com formulações gerais sobre educação, saúde, segurança e meio ambiente, o programa tucano propõe aumentar a participação da iniciativa privada na economia e defende o "choque de gestão", com a extinção de contribuições e tributos, a redução de gastos públicos e a diminuição do número de ministérios e órgãos federais.

A reforma do Estado é um dos destaques do documento que será defendido por Alckmin, com "reforma eleitoral, extensão da reforma do Judiciário e o enxugamento da gordura clientelista da máquina administrativa". A pauta de reformas será trabalhada no primeiro dia do governo, caso o PSDB saia vitorioso da eleição presidencial, mas na lista de mudanças defendidas, não estão registradas as reformas trabalhista nem a sindical. As alterações na Previdência também não são exploradas no documento.

Um dos pontos mais descritos pelo partido é o aumento do PIB para os próximos anos e a redução das desigualdades regionais. "Crescimento e desenvolvimento são irmãos siameses. As carências e os desafios são proporcionais ao tamanho do país e o Estado deve estimular o setor privado a expandir os investimentos, diretamente ou via parceria, particularmente na área crítica de infra-estrutura."

O documento apresentado pelo PSDB não traz metas de inflação, de taxa de juros ou de câmbio. Em reunião ontem com auxiliares de diferentes eixos temáticos, o coordenador do programa de Alckmin, João Carlos Meirelles, disse considerar prematuro entrar na discussão numérica e, por isso, o programa partidário traz somente a linha geral de trabalho.

Embora nenhuma das metas numéricas esteja sistematizada, o partido já esboçou alguns índices. Em entrevista ao Valor, Antonio Carlos Buainain, um dos principais economistas responsáveis pela construção da proposta econômica do PSDB, apresentou o desejo de um "crescimento chinês", com "5% no primeiro ano, 6%, 7% no terceiro, 8% no quarto". Sem precisar a meta de superávit primário, afirmou que é necessária a "austeridade fiscal" e que o partido é a favor de uma meta de inflação que "mantenha a inflação baixa e numa trajetória decrescente".

Nas primeiras linhas do documento de 23 páginas, intitulado "Caminhos para o Desenvolvimento", os tucanos dizem ter responsabilidade histórica para acabar com a corrupção no país. "Fomos nós que enfrentamos há doze anos o desafio de acabar com a inflação. Cabe-nos agora acabar com a corrupção". O programa registra que cabe ao PSDB "reatar os fios da esperança" e "despertar a indignação para que as instituições democráticas não se percam com a reeleição daqueles que levaram a política e a administração a tanta conveniência com o roubo". Para isso, Alckmin dá como fiança sua vida pessoal e de homem público.

A prioridade, consideram os tucanos, é melhorar a qualidade da educação, como o ex-governador paulista tem defendido. "Não é promessa, é um compromisso e um imperativo para o Brasil.

Entre propostas para um novo governo e defesa da gestão de Fernando Henrique Cardoso, o partido mira no PT e centra as críticas no presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Há muito, se é que alguma vez em nossa história, não se via tanta lama junta, tanta desfaçatez, até por parte do presidente da República, e tanta impunidade. "

Os tucanos centraram as críticas nas áreas de política social, econômica e externa, cujos resultados são considerados positivos pelo governo Lula. "Desastre é adjetivo leve para caracterizar a política externa do governo Lula", diz o documento. "O atual governo juntou três programas pré-existentes e deu-lhe o nome de Bolsa Família (...). A bolsa deixou de ser um instrumento de promoção de desenvolvimento humano para ser principalmente um instrumento político eleitoreiro".

Sobre segurança, calcanhar de Aquiles da gestão Alckmin, o PSDB responsabiliza a União pelos problemas enfrentados por São Paulo com os ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC). Segurança é um dos pontos mais parecidos com o programa apresentado por Serra, em 2002. Na época, os grandes temas da campanha, além de segurança, eram o combate ao desemprego e o desenvolvimento de serviços sociais de boa qualidade.