Título: Seca nos EUA atrai atenções para a safra sul-americana
Autor: Goitia, Vladimir
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2011, Especial, p. F2

Os preços globais da soja continuarão altos ou até poderão subir ainda mais por causa dos efeitos climáticos nos principais países produtores, principalmente nos Estados Unidos, castigados pela seca, avaliam analistas e consultores em agronegócios. Para eles, o principal desafio continuará sendo a manutenção da oferta da oleaginosa diante do aumento firme da demanda. Na China, esse já é o principal fator inflacionário. No Brasil, também tende a pressionar o custo de vida, porém de forma mais moderada.

"Estamos estimando uma produção recorde de soja no Brasil, embora a próxima safra ainda não tenha sequer sido plantada. Mas, se o clima não colaborar, os preços se manterão elevados como agora ou poderão subir ainda mais", diz Leonardo Menezes, analista da Céleres, empresa de consultoria no setor do agronegócio. "Estamos aguardando chuva para a segunda quinzena de setembro, o que deve ajudar o ritmo do plantio [da próxima safra] e não ficaremos no risco", emenda Fábio Trigueirinho, da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).

O fato é que a principal preocupação é a seca nos Estados Unidos, que se iniciou no Texas, produtor de carne, algodão e grãos, e já chegou ao Meio-Oeste, grande produtor de soja e milho. De acordo com Menezes, a persistência do clima seco nas regiões produtoras de soja nos EUA já obrigou, por exemplo, ajustes nos números de qualidade das lavouras americanas.

A produção de soja americana, de acordo com ele, deverá ser pelo menos 8% inferior à da temporada passada, quando chegou a superar as 90 milhões de toneladas. A seca já entrou em seu estágio mais grave, com 38% do território em situação "anormalmente seca", a segunda mais grave da escala do Centro Nacional para Mitigação da Seca. Iowa, o maior produtor de soja e milho do país, está com 45% de sua área "anormalmente secos" e 19% do território de Indiana, outro grande produtor de milho, em situação de "seca moderada", categoria imediatamente inferior.

A Céleres estima que, na safra 2011/2012, os EUA responderão por 32,3% da produção global e o Mercosul por 54% - a menor e maior representatividade já observadas em valores, respectivamente. Portanto, explica Menezes, "as atenções ficaram cada vez mais voltadas para os números da safra dos países sul-americanos". Na avaliação do consultor, isso significa mais pressão nos preços globais de comida, mais inflação alimentar e boas perspectivas para a exportação de produtores brasileiros.

"Creio que, nos próximos meses, a leitura dos números desta nova campanha ficará mais fácil. De antemão já é possível prever que haverá crescimento da produção da safra de verão de soja e aumento no plantio da safra de inverno de milho", diz Menezes, referindo-se à temporada 2011/2012.

A Céleres projeta uma produção latino-americana recorde próxima de 140 milhões de toneladas, ante 135,5 milhões de toneladas observadas em 2010/11. Pelo lado da demanda total, espera-se um volume praticamente em linha com a oferta (produção). O maior peso ainda fica com o esmagamento, 57% do total, ante 39,1% da produção destinados ao mercado de exportação. O consumo local maior do que o consumo das exportações destaca-se por conta da Argentina - 75,6% da produção de soja no país são processados. No caso do Brasil, 48,4% têm o mesmo destino. (V.G.)