Título: PMDB desiste de candidatura própria e cancela convenção
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2006, Poítica, p. A8

Por 11 votos a zero, a Executiva Nacional do PMDB, reunida ontem, em Brasília, optou por não lançar candidato à Presidência da República nesta eleição e decidiu cancelar a convenção nacional que seria realizada, segundo a última definição, dia 24. Com isso, o partido não apoiará nem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nem o tucano Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo. Os diretórios regionais ficarão livres para fazerem alianças.

Há ainda uma resistência isolada dentro do partido pela candidatura própria. Uma liminar conquistada pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no dia 2 garante a realização de uma convenção no dia 22 de junho. "Vai haver convenção, queiram eles ou não", afirmou o parlamentar. A presidência do partido vai recorrer. Alega haver afronta à autonomia partidária na decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Cunha é homem de confiança do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho, que chegou a ser pré-candidato.

Até o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer, já sepultava ontem a candidatura própria depois da reunião da Executiva, realizada com a presença dos governadores Luiz Henrique (SC) e Eduardo Braga (AM). "Quase ultrapassei os limites na tentativa de viabilizar essa candidatura, mas verifiquei que não dava mais", afirmou. Temer conversou com todos os Estados e percebeu a falta de apoio à idéia. "As questões locais eram maiores do que as nacionais", completou. O senador Sérgio Cabral (RJ) e o deputado federal Eliseu Padilha (RS) sabiam da derrota da tese e nem apareceram para defender a candidatura própria.

Com relação à ação judicial impetrada pelos partidários de Garotinho, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), chegou a demonstrar desprezo pelo grupo. "Eles perderam todas na Justiça e perderam de novo na Executiva", disse Renan. E completou: "Eles querem levar os projetos pessoais acima do partido político".

Se Renan e Temer estão lado-a-lado, agora, na questão da candidatura própria, os dois deverão ficar em pólos opostos nas questões regionais. O presidente do Senado pretende levar a legenda para o lado petista das disputas estaduais. Já o deputado trabalhará por alianças com a oposição.

Os governistas dizem ter garantias de que entre 16 e 21 Estados apoiarão Lula e farão acordos com o PT nas candidaturas dos governadores. O deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE) fala em 16 Estados, pelo menos. Já a ala oposicionista do partido fala em, no máximo, nove Estados nos quais PMDB e PT poderão estar juntos.

Tocantins, Goiás, Bahia, Pará, Piauí, Roraima, Amazonas, Ceará e Paraíba são aqueles com maior chance de haver acordo entre as duas legendas, segundo avaliação dos oposicionistas do PMDB. O Piauí tem um problema: o senador Mão Santa é favorito nas pesquisas ao governo e insiste em sair candidato.

O PSDB e o PFL seriam os favoritos para se coligarem com o partido em 12 Estados. No Mato Grosso, a tendência é fechar com o PPS. No Amapá, com o PSB. No Rio Grande do Sul, no Acre, na Paraíba e em Rondônia a maior chance é de uma candidatura praticamente sem alianças, ainda segundo as perspectivas dos oposicionistas.

O impasse maior está em São Paulo. O prefeito da capital, José Serra, candidato ao governo, queria uma chapa com o deputado Michel Temer, presidente nacional do PMDB. Esta solução ainda não se apresentou porque Orestes Quércia, presidente estadual do PMDB, ainda não definiu seu futuro político, se sai candidato ao governo de São Paulo ou faz uma coligação, lançando sua candidatura ao Senado. Situação curiosa deverá ser vista em Alagoas e no Maranhão. Nesses Estados, os senadores José Sarney e Renan Calheiros deverão ter alianças com PSDB e PFL. Mas darão palanque a Lula na disputa à Presidência.