Título: Para Genro, acordo com pemedebistas será 'programático'
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2006, Política, p. A8

O ministro da Coordenação Política, Tarso Genro, reconheceu ontem que, apesar da decisão do PMDB de não ter candidato a presidente, a união entre petistas e pemedebistas no apoio à reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva dificilmente se concretizará de maneira oficial. Genro refuta, contudo, a definição de que uma composição entre as duas legendas se daria no terreno da informalidade. "Uma aliança programática jamais pode ser considerada informal. Ela apenas não se dará dentro dos parâmetros jurídicos. Mas a responsabilidade de coalizão será formalizada", declarou o ministro.

Genro manteve o levantamento feito pelos aliados do governo no PMDB ao próprio Lula, na semana passada, estimando um apoio de 21 diretórios regionais à reeleição do presidente, sem, contudo, abrir mão das candidaturas independentes nos Estados. O cálculo do presidente do partido prevê a metade deste número.

O ministro voltou a exaltar a importância de uma aliança, programática, com o PMDB. "Pelas suas características centristas e progressistas, o PMDB é uma legenda fundamental para dar ao governo a estabilidade necessária para aprovar as reformas que o país precisa. Dentre elas, a reforma política, que dará mais estabilidade para o Executivo governar".

O ministro da coordenação não quis confirmar se José Alencar será mantido como vice num eventual segundo mandato. "Isso deve ser uma discussão realizada entre os partidos", disse. Contudo, a desistência do PMDB de fazer coligação formal aproxima a Vice novamente de José Alencar.

O ministro petista admite que, até o momento, a coalizão formal de apoio a Lula inclui PCdoB, PT e PRB. A situação do PSB, que flerta com o governo mas resiste devido aos problemas regionais, especialmente em Pernambuco, onde o petista Humberto Costa e o pessebista Eduardo Campos disputam as eleições para governador, é a mais complicada. "Nada impede que o PSB venha, mas os partidos enfrentam um problema dramático hoje, que é a questão da cláusula de barreira", reconhece Genro.

O tom conciliador é esquecido quando o ministro resolve comentar os ataques feitos pelos líderes do PSDB, durante a convenção que homologou a candidatura de Geraldo Alckmin à presidência. Segundo Genro, os ataques proferidos pelo próprio Alckmin e pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mostram que os tucanos não têm equilíbrio emocional. "A candidatura Alckmin está em crise. Está galopando há muito tempo, mas não consegue emplacar. Não empolga entre seus correligionários", lembrou.

Para o petista, o desespero e os ataques gratuitos só ajudam quem não quer discutir programa de governo. Ou quem, simplesmente, não tem nada para apresentar. "Esses ataques são uma tentativa de desviar uma questão fundamental: nós vamos continuar comparando o governo Lula com os oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso".

Alckmin e FHC chamaram Lula de chefe da quadrilha durante a convenção tucana em Belo Horizonte. Sobre a promessa dos tucanos de promover devassa na gestão Lula para mostrar o envolvimento do presidente com o esquema de corrupção, o ministro ironizou os adversários e também acusou: "É uma boa idéia. Quem sabe assim eles não concordam em fazer uma devassa nas privatizações selvagens que fizeram ou nas suspeitas de que houve compra de votos para aprovar a emenda da reeleição", ameaçou o petista.

Sobre as mais recentes denúncias contra o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, segundo as quais ele teria recebido US$ 4 milhões em uma conta no exterior, em 1993, Tarso Genro afirmou que são notícias requentadas. "O ministro falou sobre a denúncia na reunião da coordenação política e lembrou que o inquérito foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal", justificou Genro. (PTL)