Título: Reunião para debater salvaguardas é adiada
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2004, Brasil, p. A3
O governo brasileiro ainda não conseguiu fechar uma posição em relação à proposta argentina de instituir salvaguardas no Mercosul e por esse motivo a reunião que ocorreria ontem em Buenos Aires para discutir o tema foi cancelada. Segundo uma fonte da chancelaria argentina, a decisão brasileira de cancelar o encontro, sem definir uma nova data, foi comunicada na sexta-feira à noite. A Argentina esperava que o Brasil desse uma resposta ao projeto de salvaguardas intra-bloco apresentado em setembro pelo ministro da Economia, Roberto Lavagna, às autoridades brasileiras. Segundo a fonte argentina, a justificativa oficial foi de que a resposta à proposta ainda não terminou de ser formulada. O governo argentino quer que as salvaguardas entrem em vigor caso haja defasagem entre os ciclos econômicos dos dois países ou se ocorrer algo que desequilibre bruscamente o comércio bilateral, como uma desvalorização. Lavagna também propôs que alguns setores da indústria argentina considerados "sensíveis" sejam protegidos e quer criar regras para que os investimentos estrangeiros não se concentrem no Brasil. De acordo com a avaliação da fonte argentina ouvida pelo Valor, a ausência de resposta se deve à diferença de visões dentro do governo brasileiro sobre o assunto. O Itamaraty seria favorável à aceitação das salvaguardas, enquanto o Ministério do Desenvolvimento seria contra. A intenção dos argentinos é conseguir que alguma decisão sobre o tema seja tomada durante a reunião dos dez anos do Mercosul, na semana que vem em Ouro Preto. "A posição do Ministério do Desenvolvimento é claramente contrária à negociação de salvaguardas no Mercosul", afirmou ontem, em São Paulo, o secretário da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Mário Mugnaini. Ele argumenta que a comissão de monitoramento do Mercosul está operando com sucesso. "Já estamos fazendo o que o governo argentino deseja", defende Mugnaini. Para Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), os problemas e tensões entre Brasil e Argentina têm sido atenuados com "um diálogo mais efetivo entre os setores empresariais dos dois países". Ele defende a continuidade dessas conversações ao invés da possibilidade de o Brasil aceitar salvaguardas. "Elas ferem e engessam os acordos do Mercosul. Ainda há espaço para negociação