Título: UE perto de expandir fundo de resgate
Autor: Walker, Marcus
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2011, Finanças, p. C5

A zona do euro está perto de expandir seu fundo de resgate para os países endividados do bloco, com a provável aprovação do Parlamento alemão hoje depois da ratificação dos parlamentares finlandeses na quarta-feira.Mas o debate entre os gerentes de crise da Europa já passou para duas outras questões espinhosas: um aumento mais radical na abrangência do pacote de socorro e a possível reestruturação da dívida da Grécia.

O fracasso da Grécia em equilibrar seu orçamento está levando alguns governos europeus, sob a liderança da Alemanha, a exigir uma revisão do socorro internacional para Atenas, segundo autoridades envolvidas nas discussões. E a Alemanha, por sua vez, está sob pressão para que aceite "alavancar" o fundo de socorro da zona do euro usando seus recursos para multiplicar o impacto dele, dizem as autoridades.

O debate sobre as duas questões deve acelerar em outubro, quando todos os países da zona do euro tiverem ratificado a primeira rodada de mudanças no fundo de socorro.

Essas mudanças, aceitas pelos líderes europeus em março e julho mas ainda não implementadas, envolvem aumentar a capacidade de financiamento do fundo para € 440 bilhões (US$ 598 bilhões) e permitir um uso mais flexível.

Considerando que o fundo, chamado de Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, só podia financiar o socorro de países já em crise, as mudanças agora permitirão que compre títulos do governo, injete capital nos bancos e empreste para um país antes de a crise se agravar.

Todos os 17 parlamentos da zona do euro precisam aprovar as mudanças. O Parlamento da Finlândia era considerado um dos obstáculos mais difíceis, por causa da resistência política crescente ao resgate de países da zona do euro no frugal país nórdico. Mas 103 políticos finlandeses votaram ontem em favor da expansão do fundo, enquanto apenas 66 votaram contra.

O Parlamento alemão deve aprovar as mesmas medidas hoje, graças ao apoio de partidos de oposição e também da maioria dos políticos da coalizão de governo. Mas a chanceler Angela Merkel lutou durante semanas para conter a rebelião do baixo escalão dos políticos da coalizão. Um racha tão visível poderia criar um vexame para Merkel, revelando as divisões crescentes entre os conservadores que comandam o governo alemão sobre a resposta à crise.

Uma revolta maior que a esperada no baixo escalão do Parlamento poderia prejudicar o poder político de Merkel num momento em que a Europa e o mundo pedem uma liderança mais decisiva da Alemanha para solucionar a crise de crédito.

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, apelou para que os governos da zona do euro agilizem suas medidas contra a crise, alertando em seu discurso anual sobre a condição da União Europeia que o bloco pode desmoronar se não agir rapidamente.

Os líderes alemães têm relutado em falar sobre seus próximos passos para enfrentar a crise até que o voto de hoje seja obtido. Mas as autoridades alemãs já estudam novas maneiras de lidar com as finanças cada vez piores da Grécia e proteger o resto da zona do euro de uma possível moratória grega, disseram pessoas a par da questão.

"Depois do voto no Parlamento falaremos sobre mais ideias, como reestruturação de dívida e usar o fundo de socorro da maneira mais eficiente possível", diz uma autoridade de Berlim.

Foi só em julho que os líderes da zona do euro concordaram em um novo pacote de € 109 bilhões para socorrer a Grécia, obtendo promessas dos bancos para dar a Atenas um alívio na dívida. Mas a maioria dos economistas diz que o acordo mantém a Grécia com mais dívidas do que pode pagar.

A Grécia avisa desde julho que não deve alcançar as metas de déficit para este ano. Isso significa que o buraco a tapar no orçamento será maior. Se a Grécia precisar de muito mais que calculado anteriormente, começará a crescer a pressão política na Europa para impor prejuízos maiores aos credores gregos do setor privado, em vez de raspar ainda mais os cofres públicos.

Algumas autoridades alemãs defendem cada vez mais uma moratória completa da Grécia, seguida de uma reestruturação dos títulos do país que reduziria a dívida em 50%, segundo pessoas a par da questão. Mas essa posição não é a do governo alemão como um todo, disseram as pessoas.

A ideia também enfrenta forte resistência do Banco Central Europeu e da França, que temem que uma moratória grega cause mais turbulência nas dívidas da zona do euro e nos mercados bancários, e também enfrenta a oposição dos bancos, que querem manter o acordo de julho sobre a Grécia.

O governo de Merkel tentou convencer os políticos alemães a apoiar um fundo maior, com argumento de que a Europa precisa de armas mais potentes contra o contágio justamente para o caso de a Grécia pedir moratória.

A Alemanha está sob pressão dos Estados Unidos, da França e de outros países para ir além de apenas expandir o fundo para € 440 bilhões. Várias propostas em discussão multiplicariam o poder de fogo do fundo com a permissão para que tome empréstimos do BCE ou de investidores privados para comprar títulos de governos da zona do euro, ou para oferecer ao BCE ou o setor privado um certo grau de garantia se comprarem os títulos soberanos.

Embora as autoridades alemãs se digam abertas ao princípio de usar os recursos limitados do fundo "da maneira mais eficiente possível", o BCE tem rejeitado os pedidos para se unir ao fundo de socorro.

A resistência no Parlamento da Alemanha, que teria de aprovar uma alavancagem como essa, também é alta. O governo de Merkel já tentou assegurar aos parlamentares esta semana que não tem planos de forçar os contribuintes alemães a arcar com riscos ainda maiores. (Colaboram Charles Forelle, em Bruxelas, e David Crawford, em Berlim.)