Título: Ipea prevê investimento de 20,5% do PIB este ano
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2006, Brasil, p. A3

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão do Ministério do Planejamento, elevou sua previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano de 3,4% para 3,8%, percentual ainda abaixo dos 4% previstos pelo governo. Os números foram divulgados ontem e constam do Boletim de Conjuntura de junho. Na composição desse crescimento, a demanda doméstica deve apresentar a maior colaboração, de 4,7%, e a demanda externa vai registrar taxa negativa de 0,9%.

A expansão do PIB está ancorada no investimento e na indústria, reforçando o novo modelo de crescimento mais voltado para o mercado doméstico, como ressalta Fábio Giambiagi, coordenador do Grupo de Análise Conjuntural (GAC), da instituição. A boa notícia do primeiro trimestre, de crescimento forte do investimento (9%), levou o Ipea a rever para cima a projeção para a formação bruta de capital fixo (FBCF), que saltou de 5,8% em março para 7,8%. Foi o maior diferencial de todas as projeções revistas pelo Ipea. Com isso, a taxa de investimento pode alcançar 20,5% do PIB em 2006, ante 19,7% em 2005.

Avançou também para 5,3% a taxa prevista para o crescimento da indústria, antes estimada em 4,4%. Já as projeções para o setor externo apontam o saldo da balança comercial baixando para US$ 40,4 bilhões, ante os US$ 41,8 bilhões antes projetados.

O Ipea trabalha com um cenário de expansão declinante na margem, explica Paulo Levy, diretor de Estudos Macroeconômicos da instituição. Depois de crescer 1,4% no primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre do ano passado, o PIB trimestral com ajuste sazonal tende a reduzir a marcha do crescimento. As projeções do Ipea indicam que no segundo trimestre a taxa de crescimento deve ser de 1,2%, no terceiro, de 1,1%, e no quarto, de 0,9%.

Levy explica que o que pesa nessa desaceleração gradual é a questão da demanda externa líquida (menos exportação e mais importação) e a perda dos impulsos ao crescimento motivada pelas políticas monetária (ritmo menor na queda dos juros) e fiscal (diminuição dos efeitos multiplicadores da expansão do gasto público sobre a economia, já a partir do segundo trimestre, por ser ano eleitoral).

Nessa avaliação não estão sendo levadas em conta mudanças no cenário internacional. Giambiagi e Levy acreditam que o maior desafio da economia brasileira este ano será ainda de ordem interna, referindo-se à questão fiscal devido ao excesso de gastos públicos. O cenário internacional, a depender do comportamento do juros nos Estados Unidos, poderá causar impacto na economia em 2007. Devido a isso, o Ipea previu um PIB para o ano que vem com taxa de expansão de 3,8%, a mesma deste ano.

Em relação ao mercado de trabalho e à renda, as estimativas da instituição para 2006 são de um aumento de 5% na massa salarial, reforçando o aumento de 4,8% no consumo das famílias.