Título: Daniel Dantas afirma ter sido ameaçado por ex-presidente do BB
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2006, Política, p. A6

O banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity, afirmou ontem, em depoimento à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, ter sofrido "ameaça" do então presidente do Banco do BrasilCássio Casseb, em 2003, para se afastar do comando da Brasil Telecom. "Ele disse que nós teríamos que entregar todos os nossos direitos ou então estaríamos desagradando fortemente o governo... Era uma clara ameaça", relatou Dantas aos senadores. Na sua opinião, o objetivo era beneficiar a Telecom Itália.

Dantas também confirmou dois pedidos de "contribuição" financeira feitos ao Opportunity pelo PT: um, durante a campanha de 2002, por Ivan Guimarães, depois nomeado presidente do Banco Popular. Ele levou ao sócio de Dantas, Carlos Rodenburg, uma "caixinha vermelha" com material de campanha, que foi devolvida sem contribuição.

O segundo pedido, já depois da campanha, foi feito pelo ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares também a Rodenburg, num hotel em Brasília. O ex-tesoureiro disse que o partido estava com dificuldades financeiras da ordem de US$ 50 milhões e perguntou se o Opportunity poderia ajudar. Novamente, o pedido foi negado.

Para os líderes da oposição, Arthur Virgílio (PSDB-AM) e José Agripino (PFL-RN), os fatos relatados configuram um "processo de extorsão" ao Opportunity por pessoas ligadas ao governo petista. Dantas, no entanto, disse não ter havido qualquer tipo de ameaça. Delúbio teria relatado uma dívida de US$ 50 milhões do partido e sugerido que, em troca, o Opportunity poderia ser ajudado em dificuldades futuras. Dantas disse ter consultado o Citibank, que teria negado, com base na legislação americana.

A irmã do banqueiro, Verônica Dantas, que acompanhava o irmão, negou na CCJ ter declarado à Corte de Nova York que o Opportunity havia sofrido extorsão. Esta questão havia sido levada à CPI dos Bingos por Arthur Virgílio. A revelação do banqueiro considerada mais forte pela oposição foi a atuação de Casseb na tentativa de forçar o Opportunity a se afastar da Brasil Telecom.

Segundo o depoimento, a pressão foi exercida em duas ocasiões. Primeiro pessoalmente, ao próprio Dantas, numa conversa definida por ele como "dura" e "forte", na qual o então presidente do BB afirmou "peremptoriamente" que falava em nome do governo. Depois, por telefone, com um outro diretor do Opportunity, Artur Carvalho: "Ele falou com o Artur que era a última oportunidade que tínhamos e que poderíamos ser atropelados", afirmou Dantas.

De acordo com o relato, a reunião com Casseb foi sugerida pelo então ministro José Dirceu (Casa Civil), durante uma audiência. Dirceu teria sido "delicado e educado", segundo Dantas, mas disse que havia um problema entre o Opportunity e os fundos de pensão que deveria ser resolvido. "Ele disse que os fundos de pensão estavam reclamando que detinham participação societária majoritária, mas não tinham controle. E falou para conversarmos com Casseb", disse. Casseb teria dado menos de uma semana ao Opportunity. Nesse período, Dantas foi a Nova York relatar a situação ao Citibank, sócio do Opportunity.

Depois, teve outra conversa com Dirceu, na qual o então ministro teria desautorizado Casseb. "O ministro disse que Casseb falara o que não devia ter sido dito e que não estava claro porque o governo tinha que estar nisso", afirmou Dantas. "Disse que Casseb, antes de ser presidente do BB, ser conselheiro da Telecom Itália e que meu sentimento era que o pretexto era proteger os fundos, mas que o objetivo era beneficiar a Telecom Itália", disse o banqueiro.

Segundo ele, depois disso os fundos se uniram e destituíram o Opportunity da administração. "Eles desrespeitaram o contrato e daí por diante fomos tratados de forma discriminatória pelo estado", disse.

Dantas negou ter contratado a empresa Kroll para investigar o governo. Quem contratou, segundo ele, foi a executiva da Brasil Telecom, Carla Cicco, sem consultá-lo.