Título: Brasil registra déficit comercial com a China e AEB vê reversão de tendência
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2004, Brasil, p. A4

O saldo da balança comercial Brasil-China está ficando cada vez menor e a Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB) já estima que, mantida a atual tendência, o Brasil terá em 2005, pela primeira vez na história recente das relações comerciais com os chineses, um déficit ao invés de saldo. Em novembro foi registrado o segundo déficit mensal consecutivo, alcançando US$ 75 milhões. Em outubro, o déficit havia sido de US$ 32 milhões. Nos mesmos meses de 2003, a balança havia pendido para o lado brasileiro com saldos de US$ 261 milhões em outubro e de US$ 120 milhões em novembro, de acordo com os dados da AEB. De janeiro a novembro de 2003 o saldo brasileiro havia sido de US$ 2,303 bilhões, contra US$ 1,679 bilhão nos 11 primeiros meses deste ano. Para José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB, o perfil das exportações brasileiras para a China, constituído, basicamente, de produtos básicos e semi-acabados, contra importações majoritariamente de produtos manufaturados, favorece que o pêndulo se incline para o lado chinês. Ele disse que ainda não fez uma projeção elaborada, mas acrescentou que a simples observação dos números e da conjuntura do comércio mundial permitem que se preveja uma virada na relação comercial entre os dois países. "A soja caiu de preço e embora o preço do aço tenda a aumentar 20%, não será suficiente para compensar a queda da soja", analisou. A soja em grãos é o principal produto da pauta de exportações brasileiras para a China, com US$ 1,605 bilhão até setembro deste ano. Castro avalia que o fim dos embarques do produto na safra deste ano justificam a queda nas exportações brasileiras para a China nos últimos meses, que passaram de US$ 513 milhões em setembro para US$ 355 milhões em outubro e US$ 318 milhões em novembro. Mas, segundo ele, esse dado não explica a tendência de reversão no saldo comercial. Em palestra promovida ontem pela Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro, o embaixador da China no Brasil, Jiang Yuande, enfatizou o crescimento da corrente de comércio bilateral, afirmando que ela chegará a US$ 10 bilhões neste ano e a US$ 20 bilhões em 2007. Em rápida entrevista, ele afirmou que seu país não está preocupado em obter saldo comercial. "Vamos trabalhar para aumentar o comércio e não para, propositadamente, reduzir o saldo (brasileiro)", afirmou, ressaltando que, segundo seus cálculos, o saldo brasileiro será maior em 2004 do que foi em 2003. Questionado sobre se o perfil do comércio bilateral - com a China importando produtos básicos e exportando bens manufaturados -, não favorecia que seu país viesse brevemente a ter superávit na balança bilateral, Yuande afirmou que os dois países estão preocupados em agregar valor às exportações brasileiras e acrescentou que as iniciativas para a criação de empresas de capital misto em território brasileiro, para exportar para a China, expressa essa preocupação. A principal iniciativa nesse sentido é a construção, de uma usina de aço no Maranhão, uma associação da estatal chinesa Baosteel com a Companhia Vale do Rio Doce e um possível terceiro sócio, provavelmente a européia Arcelor. A usina vai produzir placas de aço para exportação. Um analista que preferiu não se identificar avalia que aumentando as compras de placas do Brasil e reduzindo as de minério bruto, a China tem mais a ganhar do que a perder. Além de comprar um produto no primeiro estágio de beneficiamento, economiza no frete e se livra da poluição gerada pela transformação do minério em placa. Este ano, a China perdeu a posição de segundo principal destino das vendas externas brasileiras para a Argentina. No ano, até novembro, as exportações do Brasil para a China estão crescendo 20% em relação ao mesmo período do ano passado, percentual inferior aos 32% dos embarques totais.