Título: Lembo prestigia e defende secretário de Segurança
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2006, Política, p. A6

Um dia depois do debate acalorado entre o secretário de Segurança, Saulo de Castro Abreu Filho, e deputados da Assembléia paulista, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), não só saiu em defesa de seu auxiliar como o prestigiou e defendeu o desempenho truculento dele. Lembo classificou como "absolutamente normal" o bate-boca entre o secretário e os parlamentares, assim como a presença de uma claque formada pela cúpula da segurança paulista e mais de 70 policiais para aplaudir Saulo.

"Eu o prestigio, respeito e diria que ele é um grande secretário de Segurança Pública, que deverá ser muito útil em outras situações no Brasil", afirmou o governador de São Paulo. O embate entre o secretário de Segurança e parlamentares tumultuou a audiência pública realizada na terça-feira, na Assembléia Legislativa de São Paulo. Saulo fora chamado a prestar esclarecimentos não só sobre a onda de violência vivida pelo Estado com as ações do Primeiro Comando da Capital (PCC), como também sobre os recursos destinados à Ronda Escolar e os ataques a postos policiais no começo do ano.

Questionado sobre a postura do secretário, com ofensas aos deputados, Lembo disse considerar a atitude como normal e típica da personalidade de Saulo. "Quando há posições muito antagônicas as pessoas realmente, às vezes, perdem o equilíbrio emocional e tornam-se mais agressivas verbalmente. É absolutamente normal", analisou o governador paulista. "Vocês não sabem o que é ser secretário de Segurança Pública", disse.

Lembo também afirmou que não vê nenhuma irregularidade na presença de mais de 70 policiais fardados, levados em cerca de 40 viaturas policiais para a audiência pública do secretário. "Acho que militar tem direito de usar farda porque é o símbolo da profissão ou da missão que eles exercem, mesmo durante a folga", comentou. "Se durante a folga o acompanharam é que eventualmente eles têm um grande respeito por esse secretário".

O governador deu pouca importância às declarações do ex-secretário de Administração Penitenciária Nagashi Furukawa, de que Saulo procurou estabelecer um acordo com o crime organizado para cessar a onda de violência no Estado, e novamente defendeu o secretário de Segurança, negando a negociação. "Esse senhor já não é mais meu secretário e não discuto as opiniões dele", afirmou. Furukawa pediu demissão do cargo no dia 26 de maio, depois de desentendimentos com Saulo. "(Saulo saiu) totalmente prestigiado. É um ato muito difícil, de muita coragem, não há um momento de tranqüilidade sequer".

Uma das críticas feitas pelos deputados ao secretário de Segurança Pública foi a falta de transparência do governo na divulgação dos mortos pela Polícia. Dados oficiais contabilizam 122 mortes. Em 24 de maio, o Conselho Regional de Medicina enviou ao Ministério Público Federal um relatório em que constam 132 mortos entre os ataques feitos entre os dias 12 e 20 e no dia 6 de junho divulgou que mais de 400 pessoas foram mortas no Estado entre esses dias.

A divergência entre os dados do governo e dos médicos "não tem nada a ver" no entendimento do governador. Questionado sobre a falta de transparência nas investigações, Lembo desconversou: "O CRM teve total liberdade de ir ao IML e a imprensa tem liberdade plena de acesso aos IMLs e aos inquéritos instaurados. O Estado de direito está preservado", disse. "Temos que analisar que as informações do CRM podem ter sido excessivas, assim como pode ser equivocada a lista divulgada pela polícia. Nesses momentos, é sempre difícil fazer levantamentos."

Lembo justificou a demora da polícia em divulgar os dados como uma forma de prudência: "Nós somos muito mal acostumados no Brasil a agredir as pessoas. Nós temos que preservá-las. Com os pequenos atos do governo vamos nos educando, nos auto-educando sobre a preservação dos direitos humanos", resumiu.