Título: Para Dulci, episódio prejudica reforma agrária
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2006, Política, p. A8

A queda do apoio da opinião pública à reforma agrária será a principal conseqüência política da invasão do Congresso Nacional feita pelo Movimento pela Libertação dos Sem Terra (MLST), segundo avaliou ontem o secretário geral da Presidência, ministro Luiz Dulci, ao visitar o Congresso da CUT em São Paulo.

A central oficializou ontem, em votação por aclamação, o seu apoio à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Este episódio vai prejudicar a causa da reforma agrária, ao diminuir a simpatia que a opinião pública sempre teve por estes movimentos sociais", disse Dulci.

Para o ministro, não há risco de o Congresso se colocar contra a aprovação da emenda constitucional que prevê a desapropriação das terras em relação às quais se comprove trabalho em condições degradantes, análogas ao trabalho escravo. "As posições no Congresso estão definidas em relação a este assunto e não acredito que ninguém reveja seu posicionamento. Não vejo como o Congresso poderá apoiar o trabalho escravo", afirmou o ministro. A chamada "PEC do Trabalho Escravo" tramita na Câmara desde 2001. A proposta foi aprovada em primeiro turno, por 326 votos a dez, em 2004, e desde então está paralisada entre os deputados.

Dulci disse ainda apostar que o efeito eleitoral da invasão de ontem será próximo de zero. "A condenação à invasão foi geral. Existe uma volúpia eleitoreira na oposição, mas assim como quem tentou explorar politicamente o ataque do PCC se deu mal, quem tentar fazer isso em relação ao ato do MLST vai se dar mal", disse, aludindo aos atentados feitos em São Paulo há três semanas.

A secretaria geral é a pasta do governo encarregada do diálogo com os movimentos sociais. No final do ano passado, Dulci participou da audiência do coordenador do MLST e líder da invasão ao Congresso, Bruno Maranhão, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A chance do diálogo com este movimento prosseguir é nenhuma. "Depois do que aconteceu ontem, é preciso fazer uma reavaliação" disse Dulci, lembrando que existem 17 movimentos sem-terra no País, "e com certeza o MLST não é o mais importante deles", afirmou Dulci.

O ministro afirmou que o diálogo do governo com outros movimentos sociais prosseguirá sem mudanças. "Temos conversado até com movimentos liderados por adversários políticos, que disputam eleições contra nós", afirmou , em uma referência à Força Sindical, presidida pelo pedetista Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, que foi candidato a vice-presidente em 2002. Para Dulci, " se o governo deixasse de dialogar com movimentos sociais que se manifestam democraticamente , estaria beneficiando o infrator", disse.

O otimismo do ministro não é compartilhado pelos principais interlocutores do governo no movimento social. "Os atos de ontem (anteontem) só ajudam a direita a criminalizar de vez os movimentos sociais, como aliás já começaram a fazer", disse o presidente da CUT, João Felício.

Para o dirigente, não apenas a votação da emenda constitucional sobre a desapropriação de terras fica comprometida, como qualquer gestão no Legislativo para revogar a norma que impede a desapropriação para fins de reforma agrária de terras que estejam ocupadas.

Atualmente, estas são as duas principais reinvindicações dos movimentos sem-terra no Congresso. "É evidente que obter apoio no Congresso para votar estes pontos se torna um objetivo muito distante, sobretudo em um ano eleitoral", disse Felício.