Título: Gravação do MLST mostra que invasão foi premeditada
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2006, Política, p. A8

Um vídeo com uma hora e vinte minutos de duração capturado pela polícia legislativa da Câmara junto aos integrantes do Movimento de Libertação dos Trabalhadores Sem-Terra (MLST) revela que a invasão e o vandalismo ocorridos anteontem na Casa foram premeditados, resultaram de um planejamento detalhado feito antes. Ontem, os 496 sem-terra presos, depois de serem ouvidos, foram transferidos para um pavilhão ainda não inaugurado de uma penitenciária de Brasília, a Papuda, onde ficarão até o fim das investigações.

Maranhão: Afastado da Executiva do PT, líder foi levado para o presídio da Papuda A filmagem foi feita nos últimos dias pelos próprios integrantes do MLST. Nas gravações, há imagens das dependências da Câmara e registros de reuniões dos manifestantes. Nas imagens, os líderes do grupo dizem que pediram aos dirigentes locais do MLST para enviarem "as pessoas da maior confiança". "Vamos chegar na portaria. Os ônibus vão chegando aos poucos, como se fossem turistas mesmo. Fiquem passeando pela Esplanada até a hora marcada", dizia um dos líderes.

Outro dirigente falou da forma de entrada. "Vamos invadir por volta das 14h. Vamos até o Salão Verde. Depois a gente sai de mansinho", ordenou. Arildo José da Silva, Antônio José Arruti Baqueiro e David Pereira da Silva estão entre os coordenadores. O líder máximo do movimento, Bruno Maranhão, integrante da Executiva Nacional do PT até ontem, não aparece. A segurança da Câmara identificou onze entradas de Arruti Baqueiro às dependências da Câmara do dia 24 de maio até terça-feira.

Os manifestantes passaram a noite no ginásio esportivo Nilson Nelson, em Brasília. O ginásio da Polícia Militar não tinha condições de receber todas as pessoas. Durante todo o dia de ontem, foram levados ao Instituto Médico Legal para serem examinados e seguiram depois para a penitenciária. Doze integrantes do movimento, identificados como os líderes, passaram a noite na 2ª Delegacia de Polícia. Vão responder por formação de quadrilha, dano ao patrimônio e corrupção de menores. Bruno Maranhão, Davi Pereira da Silva e Arildo Joel da Silva serão autuados também por tentativa de homicídio. Bruno e David são acusados de liderar a invasão e Arildo é apontado como agressor do policial legislativo Normando Fernandes, que sofreu traumatismo craniano ao receber uma pedrada. O quadro dele era estável e permanecia na UTI. O número oficial de feridos subiu para 60.

Um grupo de 15 crianças e adolescentes, acompanhados por suas mães, foi transferido para um alojamento do próprio movimento dos sem-terra perto de Brasília. Outras 27 crianças e adolescentes que estavam desacompanhadas - tinham idade entre 12 e 17 anos - foram removidas para o SOS Criança, na cidade-satélite de Taguatinga.

A Câmara contabilizava os prejuízos ontem. Não havia ainda um valor final e oficial dos danos causados ao patrimônio. Mas estima-se em um prejuízo de R$ 150 mil. Só os quatro terminais de consulta destruídos pela manifestante Francielli Acencio custarão R$ 60 mil. O automóvel da Associação dos Servidores da Câmara dos Deputados (Ascade) destruído vale R$ 20 mil. Três microcomputadores avaliados, juntos, em R$ 8,4 mil foram destruídos. As portas blindex estilhaçadas deverão custar algo em torno de 15 mil. Foram quebrados pelo menos 11 vidros. A exposição EcoCâmara, com plantas e flores, foi totalmente arrastada pelos manifestantes e os prejuízos devem chegar a R$ 6 mil. A recuperação do busto do ex-governador Mário Covas deverá custar R$ 1,5 mil.

O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) apresentou ontem um projeto de resolução para alterar o regimento interno da Câmara e criar um serviço de inteligência para a Casa. "Foi tudo premeditado. Um serviço de inteligência poderia coibir isso", afirmou. Ele apresentou um pedido ao presidente da Câmara, Aldo Rebelo, para a criação de uma comissão de parlamentares para investigar a ação do MLST em parceria com Ministério Público e Polícia Federal. "Alguém financiou isso. Precisamos saber quem é", afirmou.

Diversos deputados repudiaram a ação e pediram mais reforços para a segurança.