Título: "Foi uma cena de vandalismo", diz Lula
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2006, Política, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou ontem, durante cerimônia da Lei de Audiovisual no Planalto, a invasão e depredação do Congresso por integrantes do MLST. "Foi uma cena de vandalismo, uma cena de pessoas que perderam o limite da responsabilidade no trato da coisa pública", criticou.

O presidente foi claro ao afirmar que, "na medida que extrapolamos os limites impostos pela democracia, estaremos à disposição de pagar o preço de desrespeitar a democracia. Quem praticar vandalismo, pagará pelo vandalismo praticado". Segundo ele, a sociedade brasileira aprendeu que manifestações, passeatas, greves, protestos, como algo que faz parte da democracia. "Agora, toda vez que um movimento extrapola os limites da democracia, este movimento não está representando os anseios democráticos da sociedade".

O presidente, contudo, não quis se envolver na polêmica sobre o líder do MLST, Bruno Maranhão, secretário de organização dos movimentos sociais do PT, seu amigo. Questionado se Bruno deveria ser expulso da legenda, Lula transferiu a responsabilidade da decisão. "Isso é um assunto que o PT deve resolver".

Lula lembrou sua origem, declarando que nasceu no movimento social. "Eu fiz as greves que tinham que ser feitas, as passeatas que tinham que ser feitas neste país. Mas na minha cabeça sempre permeou a certeza de que a democracia nos impõe limite de responsabilidade e nos impõe o limite das coisas que podemos ou não fazer", disse Lula.

Para Lula, a invasão do Congresso não foi um movimento reivindicatório, "até porque não apresentaram pauta". Declarou ainda que na semana anterior fez uma série de reuniões com representantes dos trabalhadores rurais, ligados à Contag, à Confederação Nacional da Agricultura e à Fetrafe, que representa a agricultura familiar. "Neste gabinete já entrou uma quantidade de gente que jamais tinha imaginado colocar os pés dentro de um palácio da Presidência".

O presidente declarou também que as pessoas podem até não gostar do Congresso. Disse que ele próprio foi deputado por quatro anos e desistiu porque não quis mais ser deputado. "Mas todos nós aqui somos testemunhas de que este país era muito menos seguro e era menos gratificante quando a gente não tinha o Congresso Nacional funcionando, fechado pelo autoritarismo brasileiro".

Durante reunião com líderes aliados na manhã de ontem, o presidente chegou a brincar com o pernambucano José Múcio Monteiro (PTB-PE): "Veja só o que seu conterrâneo aprontou", disse, referindo-se a Bruno Maranhão, líder da invasão.

Segundo Lula disse aos líderes, Bruno Maranhão conseguiu atrapalhar a onda de notícias positivas para o governo, como o crescimento da economia e as pesquisas apontando a possibilidade de sua vitória em primeiro turno. O presidente avalia que a vinculação do MLST com o PT pode atrapalhar o clima de tranqüilidade que cerca o Planalto nos últimos dias.

"O presidente disse que a Copa faria com que as pessoas esquecessem do governo e acrescentou que a CPI dos Bingos estava chegando ao fim", disse um dos que participaram de reunião da coordenação política. Um petista resumiu o sentimento em relação a Bruno Maranhão, integrante da direção do PT. "Ele ficou três anos e meio quieto. Não resistiu".