Título: O bombeiro de Dilma
Autor: Rothenburg, Denise; Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 08/09/2010, Política, p. 3

Presidente Lula ocupa parte do horário da petista na TV para defendê-la de ataques dos adversários e criticar a turma do contra

As denúncias da quebra de sigilo fiscal de personalidades ligadas ao PSDB levaram o presidente Lula a ocupar mais de dois minutos da sua candidata no horário eleitoral gratuito um recurso que a campanha não usava desde a primeira semana de agosto. O mesmo Lula que apareceu em plano fechado defendendo a biografia de Dilma Rousseff naqueles primeiros programas de TV voltou ontem ao mesmo cenário para, no lugar da candidata, reagir aos ataques do PSDB. O presidente, que tinha dito que não faria um pronunciamento no Sete de Setembro por causa das eleições, terminou usando a Independência como um dos motes para sua fala no programa da presidenciável petista.

Ao citar a data, Lula disse, sem citar nomes, que uma nação forte, independente e justa não é feita por aqueles que só pensam em destruir e colocam interesses pessoais acima dos interesses do país. Em seguida, fez um apelo aos adversários, para que tenham mais amor pelo Brasil. Sem citar a quebra de sigilo fiscal de Verônica, filha do candidato do PSDB ao Planalto, José Serra, ou de outros tucanos, ele foi direto: O candidato da turma da contra, que torce o nariz para tudo o que o Brasil conquistou ao longo dos últimos anos, resolveu partir para a baixaria. Tentar atingir com mentiras e calúnias uma mulher da qualidade de Dilma Rousseff é praticar um crime contra o Brasil. E, em especial contra a mulher brasileira, disse o presidente.

A participação de Lula foi definida na segunda-feira, quando o comando de campanha avaliou que os tucanos não iriam reduzir a carga, as pesquisas internas indicavam que o tema poderia causar algum abalo, ainda que pequeno, e que a candidata estava obrigada a tratar do assunto em todas as entrevistas. Agora, com a fala de Lula, eles acreditam que o escudo foi reforçado.

O chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, não negou que companheiros da base podem estar envolvidos na quebra de sigilo fiscal, mas ressaltou que alguns filiados nem sabiam ser filiados. Carvalho não quis falar diretamente em fogo amigo, mas deu a entender que o beneficiado pelo escândalo é a candidatura tucana de José Serra. A quem interessa essa história a não ser quem está por baixo?, afirmou, admitindo que o episódio revela fragilidade da Receita Federal.

Crack No programa da tarde, Dilma defendeu suas propostas para a segurança pública e combate às drogas, especialmente o crack. O candidato à Presidência José Serra usou imagens do horário eleitoral petista para criticar as mentiras da campanha adversária. O PSol trouxe um depoimento do caseiro Francenildo Santos Costa, que ficou conhecido no escândalo que derrubou Antonio Pallocci do Ministério da Fazenda em 2006.

"Eu não sou cristão de boca de urna, para agradar eleitores José Serra, candidato do PSDB à Presidência

"Tentar atingir com mentiras uma mulher da qualidade de Dilma é praticar um crime contra o Brasil Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República

Entre as Bíblias

Ullisses Campbell

São Paulo Uma caminhada do candidato à Presidência da República José Serra (PSDB) por uma feira de produtos para evangélicos acabou em tumulto e irritou alguns religiosos. Ao passar por corredores estreitos da Expo-cristã, na Zona Norte, correligionários, seguranças, assessores, cinegrafistas e jornalistas formavam um cordão humano que derrubava gôndolas e pilhas de Bíblias pelo chão. Serra chegou a ficar assustado com o tumulto e se desvencilhou da multidão duas vezes correndo abaixado. Assim não dá, queixou-se a assessores. Com o tumulto, conseguiu cumprimentar apenas três eleitores.

Assim que a comitiva passou pelo estande de Ângela Johnson, que vende brinquedos e livros para crianças, as prateleiras foram derrubadas e seu filho de 6 anos ficou assustado. Quem está passando pelo corredor?, questionou Ângela. O candidato José Serra, respondeu uma senhora. Parece um tsunami, comentou, dizendo que não vota no tucano.

Serra parou numa barraca de doces e comeu um cajuzinho e outro feito de abóbora. Em outra esquina, tomou café. Não pagou o que consumiu. Tava aglomerado e não tinha como pagar, justificou o gerente do café, Luís Granato.

No corre-corre, Serra chegou a pisar numa Bíblia que tinha caído no chão. Ele juntou o livro e entregou a um assessor. Ao caminhar pelos corredores, o candidato ganhou outras três Bíblias e o Manual Bíblico das Promessas, além de um CD do cantor evangélico Marquinhos Gomes intitulado Ele não desiste de você. Uma das poucas eleitoras que conseguiram chegar perto de Serra, Luiza Ferraz, 47 anos, disse que Deus abençoa a candidatura dele e que o manterá afastado de todo o mal.

Sem citar o nome de Dilma, Serra também criticou a petista, dizendo que ele não é cristão de boca de urna, referindo-se à candidata, que dizia que não tinha religião e, desde que se candidatou, passou a se dizer católica. Sempre vim nessa feira. Os valores de Cristo são os meus. Eu não sou cristão de boca de urna, para agradar eleitores e no dia seguinte esquecer o assunto, ressaltou.

Em um estande de uma igreja de Campinas, Serra acompanhou a apresentação de uma banda evangélica e chegou a usar um microfone para cantar com os artistas parte do hino motivacional. O candidato cantarolou o refrão que dizia vai dar tudo certo. O tucano também ressaltou a importância dos evangélicos, que incentivam as crianças a lerem a Bíblia desde cedo. A leitura da Bíblia estimula o desenvolvimento cultural das pessoas, ressaltou.

Serra disse ainda que, se eleito, ele pretende contar com o apoio das igrejas na reabilitação de pacientes na rede de casas de tratamento de dependentes químicos. Ele planeja ainda construir 50 hospitais de reabilitação de portadores de necessidades especiais que levará o nome de Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, iniciativa católica.

Sigilo Sobre a quebra de sigilo da filha Verônica Serra e de outras pessoas ligadas ao PSDB, Serra preferiu o silêncio. Na semana passada, ele chegou a dizer que o episódio era crime eleitoral. Vou me dar o direito de não falar sobre isso hoje, esquivou-se.

O número 50 Número de hospitais de reabilitação para portadores de necessidades especiais que Serra promete construir

Candidata do PV à Presidência, Marina Silva criticou ontem o rumo que a campanha eleitoral tomou nos últimos dias e criticou veladamente a postura do tucano José Serra. Segundo ela, há candidatos que se fazem de vítima para tentar ganhar votos com o episódio da quebra de sigilos da Receita Federal. As eleições estão indo por um caminho que não interessa ao Brasil. Interessa para alguém ganhar as eleições se fazendo de vítima para, de acordo com as circunstâncias, angariar a simpatia do eleitor, afirmou a candidata, durante entrevista coletiva concedida em São Paulo. A senadora evitou citar a violação do sigilo da filha de Serra, Verônica, e acrescentou que o envolvimento de filiados ao PT na violação aos sigilos só faz com que a gente exija cada vez mais uma investigação mais consistente.