Título: Bancos acumulam US$ 7, 2 bilhões em posição comprada em dólar
Autor: Mônica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2006, Finanças, p. C1
Com toda a turbulência vivida pelos mercados financeiros e de capitais, o fluxo líquido do mercado primário de câmbio se recuperou e foi fortemente superavitário em maio, sob o ponto de vista da contratação dos negócios.
O volume de moeda estrangeira ofertado aos bancos pela clientela superou a procura em US$ 7,504 bilhões, segundo os dados divulgados ontem pelo Banco Central. Em abril, embora também positiva, essa diferença foi só de US$ 609 milhões.
Com tamanha sobra em maio, apesar dos leilões de compra realizados pela autoridade monetária no mercado interbancário, o estoque de moeda estrangeira "encarteirado" pelo conjunto do sistema financeiro voltou a subir expressivamente, fechando o mês em US$ 7,165 bilhões. Esta é a maior posição comprada registrada pela carteira de câmbio do sistema bancário desde fevereiro de 1994, início da série histórica levantada pelo BC.
O fato de não haver mais limite para a acumulação de dólares pelas instituições financeiras influenciou. O teto - que era de US$ 6 milhões por banco e exigia que qualquer coisa acima disso fosse depositada sem remuneração no BC - foi extinto no início do ano passado, no processo de liberalização das operações cambiais. Mas durante muito tempo isso não fez diferença porque o sistema financeiro trabalhou todo o ano de 2005 e janeiro de 2006 com posição vendida em câmbio, ou seja, com mais moeda estrangeira a entregar do que em carteira.
Em relação ao final de abril, mês em que caiu de US$ 5,603 bilhões para US$ 3,743 bilhões, o volume de dólares e outras moedas estrangeiras acumulado pelo conjunto dos bancos subiu o equivalente a US$ 3,422 bilhões. Comparada com o valor líquido que eles adquiriram no mercado primário (operações com clientes) em maio, essa variação sugere que cerca de US$ 4 bilhões foram comprados pelo BC, para reforço das reservas. Até dia 16 do mês, o BC fez dez leilões de compra no mercado cambial interbancário.
Também divulgados ontem, os dados sobre o fatores que influenciaram o comportamento da base monetária (reservas dos bancos em moeda nacional no BC mais papel moeda emitido) em maio apontam no mesmo sentido. O impacto monetário, dentro do país, das operações do BC com moeda estrangeira foi expansionista em cerca de R$ 9 bilhões. Esse foi volume de reis injetado pelo BC na economia ao adquirir dólares dos bancos. Com este e outros reforços, as reservas cambiais oficiais do país, que estavam na casa dos US$ 56,55 bilhões em abril, fecharam maio em US$ 63,37 bilhões.
No mercado primário, as contratações cambiais vinculadas ao comércio exterior foram as principais responsáveis pelo expressivo superávit em maio. Só a diferença entre o que foi vendido pelos exportadores e o que foi demandado para pagamento de importações garantiu sobra de US$ 7,33 bilhões, ante US$ 3,325 bilhões em abril. As operações de câmbio referentes a importações somaram US$ 6,75 bilhões, quase o mesmo montante de abril (US$ 6,792 bilhões). O ganho foi do lado das exportações, cuja contratação de câmbio subiu de US$ 10,116 bilhões para US$ 14,08 bilhões.
Atualmente no comando da Mauá Investimentos, o economista Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC, acredita que a subida da taxa de câmbio teve grande peso nesse comportamento. Os exportadores aproveitaram o momento para vender mais moeda estrangeira, diz. Mas essa não é, na sua opinião, a única explicação para o "espetacular" superávit cambial do mês passado. Mesmo com a piora do cenário externo, os bons fundamentos da economia brasileira, diz, garantiram a continuidade do ingresso de capitais estrangeiros no país, o que se refletiu nos números da contratação de câmbio referente a operações financeiras. Nesse segmento do mercado primário, a oferta de moeda estrangeira, de US$ 11,128 bilhões em abril, alcançou US$ 17,372 bilhões em maio, superando a demanda em US$ 174 milhões. Foi uma grande virada em relação a abril, quando essas operações resultaram em déficit cambial de US$ 2,715 milhões.
O BC divulgou os números no mesmo dia em que anunciou a troca de comando no Depin, departamento responsável pela aplicação das reservas cambiais e pelos leilões de câmbio. Sai Daso Coimbra, que ocupou o cargo por sete anos, e entra Marcio Moreira, até então chefe do Derin, Departamento da Dívida Externa e Relações Internacionais. Segundo o BC, o desligamento se deu por motivos pessoais.