Título: Lula descarta "mágicas" para retomar equilíbrio
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2006, Finanças, p. C1

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou ontem que o câmbio vai encontrar o seu ponto de equilíbrio com base na seriedade e não com mágicas. Lula afirmou que dois elementos serão fundamentais para que a cotação da moeda americana atinja um patamar razoável: a redução gradual da taxa de juros e o aumento das importações de máquinas e equipamentos pelos empresários brasileiros.

"Com o aumento das importações, com a redução dos juros, automaticamente vai ter menos dólar no mercado e o dólar pode chegar ao patamar que precisa chegar. E que ninguém ouse dizer qual é, porque ninguém tem coragem de dizer", desafiou o presidente.

Lula esbanjou otimismo diante de empresários que participavam do Seminário "Brasil nos Trilhos", no hotel Blue Tree, em Brasília. Afirmou que o país hoje tem uma economia sólida. "Não estamos mais naquele tempo em que o Banco Central tinha que vender dólar para baratear o dólar. Hoje as pessoas querem que a gente compre para encarecer o dólar", afirmou.

O presidente disse ainda que a razão para essa mudança é simples: "o país cresceu, nós temos reservas como jamais tivemos na nossa história. E tem apenas quatro países no mundo que têm mais reservas do que nós". Lula destacou que passou a fase na qual o país se via obrigado a alternar anos de exportação com outros de importação. "Se o país decidiu crescer, se o país decidiu combinar crescimento interno com exportação, não vai ter mais aquela bobagem de oscilação. O ideal é a gente exportar o máximo possível e importar o máximo possível", afirmou.

Repetindo uma expressão popular, Lula disse que o Brasil hoje é "dono da carne seca", sem ter que prestar contas para o FMI ou para outros credores internacionais. "Acabou aquele tempo em que a gente tinha que ficar recebendo a delegação do FMI aqui, em que desciam pessoas no aeroporto, a televisão filmava, uma mulher e um homem vinham para cá, sentar com os nossos ministros, para dizer o que eles tinham que fazer. Hoje não precisa mais", resumiu Lula.

Em relação às ferrovias, Lula também prevê um futuro promissor, apesar de, no caso da Transnordestina, uma de suas promessas de campanha, o marco zero ter sido inaugurado apenas na terça. Segundo o presidente, foram necessários praticamente dois anos e meio, quase três, para construir a engenharia financeira para anunciar o começo das obras. Mesmo assim, Lula não deixou de provocar a oposição. "Tem gente que não gostou que nós anunciássemos ontem (anteontem), porque tem gente que gostaria que não acontecesse", afirmou o presidente.

Sobre a ferrovia Norte-Sul, após mais uma auto-penitência pelas críticas feitas no passado, Lula afirmou que termina seu mandato fazendo, em quatro anos, mais que tudo o que foi feito nos outros anos.

"Tendo o dinheiro, tendo a decisão política, tendo os empresários que querem tocar o negócio, tendo os empresários que querem construir e tendo os trabalhadores precisando de emprego para trabalhar, o que falta? Absolutamente nada", acredita o presidente.