Título: PSDB oficializa Alckmin, ataca Lula e aposta no desgaste do governo
Autor: Raymundo Costa e Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 12/06/2006, Política, p. A5
Convenção nacional do PSDB formalizou ontem o nome do ex-governador Geraldo Alckmin como candidato a presidente e oficializou a aliança com o PFL. Os dois partidos já acertaram coligações nas eleições para governador em 10 Estados, podendo chegar a 13 nos próximos dias. Os tucanos apostam na forma dessa aliança, que deve incluir também o PPS, para reverter o quadro de desvantagem que seu candidato apresenta nas pesquisas em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas sobretudo naquilo que avaliam a principal força da campanha: o "desastre" que consideram ter sido o governo Lula. Em discurso, Alckmin chegou a sugerir que o presidente é "o chefe" dos 40 ladrões. "Que tempos são esses em que um procurador-geral da República denuncia uma quadrilha de 40 criminosos e no meio da lista estão ministros, auxiliares do presidente, amigos do presidente?", questionou Alckmin, para em seguida responder com uma nova pergunta: "Que tempos são esses, no Brasil, em que cada vez que ouvem uma notícia sobre a quadrilha dos 40, os brasileiros pensam automaticamente, em silêncio: e o chefe? Onde está o chefe, o líder dos 40 ladrões?". Segundo o candidato tucano, "o que os brasileiros viram nos últimos anos não tem paralelo na história - nunca houve tanta desfaçatez e tanto banditismo em esferas tão altas da República".
Alckmin endureceu o discurso contra Lula não só porque a avaliação dos tucanos é a de que por esse caminho será possível desconstruir a candidatura do presidente, mas também porque precisa apresentar respostas rápidas nas pesquisas para segurar as alianças que conseguiu tecer até agora. Com as 10 coligações já acertadas com o PFL, das quais cinco incluem o PMDB, três o PPS, uma o PDT e outra o PV, o tucano já parte para a campanha com uma base regional melhor que a José Serra tinha nas eleições de 2002. Para mantê-la, no entanto, precisa rapidamente demonstrar que é um candidato efetivamente competitivo, algo sobre o que há muitas dúvidas tanto no PSDB quanto no PFL.
As cúpulas dos dois partidos compareceram à convenção que oficializou o nome de Alckmin, realizada ontem em Belo Horizonte, sob o patrocínio do governador mineiro Aécio Neves, também ele oficializado candidato à reeleição. Cerca de 12 mil pessoas, entre convencionais e militantes, compareceram ao encontro, uma festa que custou cerca de R$ 1 milhão e foi organizada por Aécio também numa tentativa de afastar as especulações segundo as quais estaria dedicando pouco empenho pela candidatura de Alckmin. O que o governador, evidentemente, nega.
O ex-prefeito de São Paulo José Serra, sobre quem repousa a mesma suspeita, também compareceu, mas fez um discurso curto, no qual disse que a economia, sob o governo Lula, "está hipotecando o futuro", e que na área social importam mais "o marketing e a propaganda do que a substância".
Alckmin fez um discurso longo, de mais de uma hora, sob a justificativa de que apresentava sua plataforma de governo. O tucano falou muito de economia e crescimento (ler matéria nesta página), deixou claro que a educação será uma de suas prioridades no governo, ao dedicar 20 parágrafos ao tema, e se estendeu por outros dez parágrafos ao tema da segurança pública.
Desde os ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC) a policiais de São Paulo, os adversários do ex-governador passaram a avaliar que a segurança pública será um dos seus pontos vulneráveis na campanha eleitoral. Alckmin disse que o futuro governo vai atuar "com rapidez e ousadia" no campo da segurança.
De imediato, para a primeira semana de governo, prometeu "um conjunto de medidas que melhorem a articulação entre as forças da lei". O primeiro passo, disse, "é cada nível de governo, começando pelo federal, assumir com clareza suas responsabilidades específicas pela segurança pública, sem tergiversação". Mais que severidade na pena, "é a certeza da punição que pode desencorajar a prática do crime. O exemplo, bom ou mau, vem de cima. O clima de cinismo e impunidade instaurado pelo atual governo em favor de seus correligionários e aliados é um péssimo exemplo". Em vez disso - prometeu - "vamos praticar a indulgência zero, começando pelos políticos".
Pródigo sobre educação e segurança pública, Alckmin, no entanto, destinou apenas três parágrafos de seu longo discurso para falar sobre a rede de proteção social, que deve ser o carro-chefe da campanha de Lula à reeleição. O tucano disse que o atual presidente herdou uma rede de proteção social que, em 2002, "se estendia a mais de 38 milhões de brasileiro", insinuando que, em matéria social, as bolsas não são exclusividade de Lula.
Alckmin afirmou que vai manter e até ampliar os programas de transferência de renda, mas lembrou que é preciso ir adiante deste modelo. "Não queremos condenar as famílias eternamente à ajuda do governo, é preciso devolver às famílias a dignidade do trabalho", diz ele, no documento do programa de governo. "Só com mais crescimento criaremos oportunidades de trabalho".