Título: Alto custo do petróleo tem pouco impacto na inflação
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Fonte: Valor Econômico, 12/06/2006, Opinião, p. A10

A manutenção dos preços do petróleo em níveis muito elevados desde meados do ano passado continua sendo uma preocupação para as autoridades econômicas em quase todo o mundo. Mas há indicadores razoavelmente seguros de que o impacto das cotações acima dos US$ 70 por barril de óleo, como se observa nos mercados internacionais há cerca de um mês, não será muito grande sobre os índices de inflação brasileiros. Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o IPCA - que mede oficialmente a inflação doméstica - ficou em apenas 0,10% no mês de maio (alta de 0,10%). Nesse ritmo, já há analistas que consideram possível que esse indicador feche o ano de 2006 em 4,0%, abaixo, portanto, da meta de 4,5% fixada pelo Conselho Monetário Nacional.

Mundialmente, a grande questão que se coloca em relação aos preços do petróleo é o quanto a economia americana irá, de fato, se desacelerar ao longo dos próximos meses. A pressão compradora da parte da China deverá continuar, mas qualquer redução no ritmo de expansão nos Estados Unidos certamente afetará o mercado de óleo já que oferta e demanda do produto estão hoje muito próximas uma da outro, na opinião da maioria dos especialistas. Tanto é assim que qualquer informação sobre a eventual possibilidade de redução na oferta da parte de um dos países exportadores, por menor que seja essa ameaça, tem resultado em aumentos imediatos das cotações, como se viu várias vezes na semana passada.

Em recente relatório anual, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) aconselhou os países membros a aprenderem a conviver com o petróleo caro. Seus analistas esperam que o barril fique em torno de US$ 70. A possibilidade de que os preços da energia estejam com uma tendência de alta implica que seria errado expurgá-los do núcleo de inflação, já que eles poderiam elevar a inflação permanentemente. Isso quer dizer que os bancos centrais dos EUA e Japão precisam ficar atentos, porque as pesquisas e os dados oficiais indicam um crescimento acima da média, levando, potencialmente, a pressão inflacionária.

Os economistas da OCDE mostram-se, de qualquer forma, surpresos com a resistência de crescimento da economia mundial apesar do petróleo caro. Para a entidade, a perspectiva para as principais economias do mundo continua sólida. A OCDE elevou sua previsão de crescimento para seus 30 países-membros para 3,1%, contra a projeção anterior de 2,9%, feita em novembro. A aceleração é atribuída ao dinamismo da Ásia.

Internamente, economistas consideram que o petróleo ainda é um risco baixo para a inflação, com a perspectiva de um reajuste zero dos seus derivados em 2006. Depois de muitos anos de forte pressão desse grupo, agora espera-se que a redução da inflação do grupo de preços administrados contribua com 1,5 ponto percentual para a redução da inflação medida IPCA neste ano. O Banco Central também considera que haverá reajuste zero para os preços da gasolina e do gás de bujão. Em parte, isso é explicado porque o preço doméstico da gasolina não se encontra muito distante das cotações internacionais.

Se houver a decisão governamental de adotar um realinhamento do preço interno da gasolina às cotações internacionais do petróleo, o impacto seria bastante reduzido. Segundo especialistas, a Petrobras busca manter certa paridade com a cotação internacional da gasolina e, ao mesmo tempo, suavizar as variações de preços no mercado doméstico. A conciliação desses dois propósitos impede que o preço da gasolina no mercado doméstico esteja sempre alinhado ao da gasolina cotada no mercado internacional. Um estudo divulgado pelo banco Credit Suisse comparou os preços da gasolina nas refinarias com o do produto exportado. A conclusão é que a gasolina no Brasil está ligeiramente (10%) abaixo o preço internacional quando considerada a taxa de câmbio de R$ 2,16 por dólar. Se a Petrobras alinhar hoje o preço da gasolina na refinaria com a sua referência internacional, o impacto ao consumidor seria de 5%, o que significaria uma contribuição adicional para a inflação IPCA em 2006 de modestos 0,24 ponto percentual.