Título: Eleição mais em conta
Autor: Tahan, Lilian; Taffner, Ricardo; Amorin, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 08/09/2010, Cidades, p. 21

Levantamento do Correio constata que a arrecadação este ano está 30% menor. Crise política é uma das razões para a redução

JULIANA BOECHAT

Um dos efeitos da crise política vivida às vésperas das eleições na capital da República é sentido no bolso dos candidatos. Os concorrentes ao pleito de 3 de outubro arrecadaram em média 30% a menos que os inscritos na disputa de 2006, o que se reflete no atual potencial de gastos, também menor. Levantamento feito pelo Correio revela que em 2010 a arrecadação de campanha, a esta altura do embate eleitoral, foi um terço menor que há quatro anos. As despesas, corrigidas pela inflação, estão 27,8% menores. Números que refletem, entre outras dificuldades, a resistência de empresários em investir nos políticos candangos após o escândalo da Caixa de Pandora.

Balanço financeiro atualizado esta semana pelos candidatos mostra que até agora o caixa da campanha é de R$ 19,9 milhões. O número corresponde à soma de arrecadação declarada pelos 1.059 concorrentes registrados para a corrida eleitoral. Deste total, os políticos afirmam ter gasto R$ 15,9 milhões, o que significa média de despesa por candidato no valor de R$ 15 mil. Em 2006, o conjunto dos recursos amealhados pelos políticos foi de R$ 17,4 milhões. À época, o número de candidaturas era menor: 787 inscrições. Assim, os gastos por candidato foram mais expressivos, de R$ 17,2 mil. O mesmo aconteceu com as receitas, que totalizaram R$ 22,1 mil. Em valores corrigidos, essas quantias subiriam para R$ 20,8 mil com relação as despesas e R$ 26,6 mil no caso das doações, índices praticamente 30% mais altos do que as médias atuais.

Cifras de impressionar Os gastos estão mais modestos, mas as cifras não deixam de impressionar. Só para a disputa ao Governo do DF, circula um volume da ordem de R$ 4,7 milhões, dos quais R$ 4,1 milhões já foram utilizados. No caso dos concorrentes ao Palácio do Buriti, a maior parte dos recursos está concentrada nas campanhas do petista Agnelo Queiroz e do ex-governador Joaquim Roriz (PSC). Enquanto as coligações de Agnelo e de Roriz já aplicaram R$ 4 milhões, as outras seis chapas com pretendente ao GDF usaram apenas R$ 140 mil.

Entre os deputados federais, quem mais investe na eleição é um candidato de primeira viagem. Ex-presidente da Novacap durante gestão de José Roberto Arruda e braço direito de Tadeu Filippelli candidato à vice na coligação de Agnelo Luiz Carlos Pietschmann (PMDB) já despejou quase R$ 500 mil em sua campanha (confira quadro). Em segundo lugar está o petista Geraldo Magela, com gastos que chegam a R$ 331,2 mil. Quantia quase igual à que Washington Mesquita (PSDB) está usando na tentativa de melhorar sua performance nas eleições deste ano para a Câmara Legislativa. Em 2006, ele ficou na suplência de distrital. O deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB) é o que faz a aposta mais alta entre os postulantes ao Senado. Arrecadou R$ 665,7 mil e já gastou R$ 533,4 mil para conquistar o mandato de oito anos.

Detalhamento Para Rollemberg, a campanha ao Senado Federal não está cara e a prestação de contas reflete o alto grau de detalhamento na declaração dos gastos, principalmente dos recursos estimados em dinheiro. Isso porque todos os bens utilizados no período, mesmo que emprestados, devem ser declarados com um valor real. Se olhar entre os 91 eleitos, e eu tiver a ventura de estar entre eles, vão ver que a minha campanha foi a mais barata, diz. Ao mesmo tempo, o parlamentar se vangloria de estar entre os que mais receberam recursos. Fico feliz em perceber que tem muita gente acreditando em mim.

A coordenação de Comunicação da campanha de Agnelo Queiroz (PT) acredita que o número de doações aumentou em consonância com o crescimento da candidatura. É natural esse aumento no volume de verba. É a consolidação de uma campanha ficha limpa, da transparência e da honestidade, afirma a assessora de imprensa Samanta Sallum. Segundo ela, a rigidez da legislação eleitoral e as repercussões dos recentes escândalos políticos no DF são as principais causas da redução das doações.

Paulo Fona, coordenador de Comunicação de Joaquim Roriz (PSC), concorda com o grupo adversário. Existem regras que refletem diretamente nos gastos. Por exemplo, a proibição de pintura em muro faz com que não gastemos com tinta e pintor, explica. Mas Fona cutuca a declaração do petista. A diferença da primeira prestação para esta mostra que eles esconderam o jogo. A gente não usa desse subterfúgio. Eles são os donos das campanhas milionárias, ataca. A reportagem tentou contato com os candidatos Luiz Carlos Pietschmann (PMDB) e Washington Mesquita(PSDB), mas eles não retornaram as ligações.