Título: Análise: Inflação nos EUA dita viés em semana curta
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 12/06/2006, Finanças, p. C2

A inflação americana concentrará as atenções nesta semana em que os mercados brasileiros irão operar a plena carga apenas durante dois dias. Haverá mercado efetivamente hoje e na quarta-feira. Amanhã, por causa da estréia do Brasil na Copa, o expediente será pela metade. E espera-se pregões mornos e ilíquidos na sexta-feira, após o feriado nacional de quinta-feira. E como não está previsto nenhum evento doméstico relevante, o foco estará voltado para a volatilidade externa. O comportamento dos segmentos dependerá dos remanejamentos internacionais de portfólio suscitados pelas incertezas monetárias americanas e pela visão de uma desaceleração econômica mundial.

Na terça-feira será conhecida a taxa de inflação no atacado dos EUA em maio. E, na quarta-feira, a do varejo. Se os núcleos superarem 0,2%, retornará o pessimismo associado ao fantasma da estagflação. As curvas do crescimento econômico e da inflação já estão caminhando em sentidos opostos. A primeira declina e a segunda sobe. O Federal Reserve (Fed) já sinalizou aos analistas que confere maior importância à segunda. Ele não acredita que mais uma alta de 0,25 ponto no juro americano no próximo dia 29, com a taxa básica se elevando para 5,25%, irá aprofundar o desaquecimento a ponto de provocar uma recessão. Mas a alta será importante para dissuadir repasses aos preços dos choques verificados nos combustíveis e nas commodities. Mesmo que os núcleos dos índices de inflação venham a indicar um recuo capaz de reconduzir a taxa atual à sua meta implícita de 2% - já que maio não foi um mês de disparada do petróleo -, o avanço do juro básico americano no final do mês parece dado. Mas, nessa hipótese, seria o último do ciclo de aperto iniciado em junho de 2004.

Um sinal mais convincente de que o arrocho monetário está muito perto do fim já poderia colocar em ordem a curva de rentabilidade dos títulos do Tesouro americano. Os juros estão completamente desalinhados. As taxas para os papéis com prazo de dez anos, a 4,98% na sexta-feira, estão abaixo do overnight, de 5%. Classicamente, essa distorção ocorre em momentos de desaquecimento econômico. Grandes investidores institucionais passam a buscar refúgio nos títulos de 10 anos e provocam forte baixa da remuneração.

Os períodos de calmaria nos mercados externos são rapidamente aproveitados para a restauração das tendências domésticas naturais nos segmentos de câmbio e juros futuros. Foi assim na sexta-feira. O dólar fechou em baixa de 0,48%, cotado a R$ 2,2610. Na semana, a moeda acumulou perda de 0,75%, interrompendo uma seqüência de quatro semanas em valorização, durante as quais avançou 10,80%. O fluxo cambial de maio mostrou que, havendo preço bom, os exportadores trazem mais dólares do que o volume que é requerido pelo capital estrangeiro em fuga. O CDI previsto para a virada do ano pelo mercado futuro da BM & F caiu 0,08 ponto, para 15,72%.