Título: As eleições de 2012 e seus desafios
Autor: Farinha,António
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2011, Opinião, p. A11
Se você acha que o ano de 2011 provocou reflexos significativos no mundo, então deve se preparar para ainda mais em 2012. Ano que vem será marcado por grandes mudanças políticas ao redor do globo. Ao todo, mais de 50 países terão eleições - incluindo o Brasil, que escolherá seus representantes municipais.
Desse total, 24 nações definirão seus novos líderes. Pela primeira vez na história, potências econômicas como Estados Unidos, China, França e Rússia realizarão pleitos simultaneamente. Em outras épocas, pouco se mencionaria essa coincidência. No entanto, com o atual cenário econômico, as votações assumem uma importância ainda mais significativa, devendo inclusive reforçar a volatilidade dos mercados.
Para entender o impacto da situação é importante salientar que mais da metade da população mundial (53%), algo perto de 3,6 bilhões de pessoas, será afetada pelas eleições desses 24 países. Entre as nações que passarão por mudanças no comando, quatro integram o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e são responsáveis por mais de 40% do PIB global - o que explica, em grande parte, porque todo o mundo sentirá a influência dessa troca de poderes.
Sob a ótica econômica, outro ponto deve ser avaliado. A recessão que ronda o cenário mundial poderia ser contida se reformas profundas fossem realizadas em diferentes setores. Ainda em 2008, muitos dos líderes que agora buscam a reeleição prometeram uma série de alterações no sistema financeiro com o objetivo de fortalecer o desenvolvimento de seus países. Entretanto, o que se viu foram mudanças internas ou feitas pelo G-20 que não passaram de medidas para ganhar tempo. Remendos para solucionar problemas que hoje só demonstram a séria dificuldade para tomadas de decisões que realmente proporcionem soluções reais.
Se, por um lado, as lideranças políticas têm receio em promover reformas necessárias, porém altamente impopulares em momentos pré-eleitorais, de outro, a necessidade de tomada de decisões é imediata. Isso porque, com a globalização, problemas e situações que antes eram resolvidos dentro de casa hoje ganham proporções muito maiores. Exemplos disso não faltam: a quebra do Lehman Brothers nos Estados Unidos, o terremoto e tsunami no Japão ou a crise na zona do Euro. Mesmo sendo pouco afetado, o Brasil sentiu o impacto desses acontecimentos com a forte valorização do real.
É necessário que as lideranças façam planos com rapidez, buscando assim minimizar impactos negativos. A sigla VICA (Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade), utilizada pelo exército dos Estados Unidos para situações inesperadas, tem conceitos que se encaixam também na descrição dos modelos de negócios modernos e das tomadas de decisões políticas. Esses conceitos estão sendo aplicados por governos e grandes corporações na análise de cenários decorrentes das mudanças políticas de 2012.
Por outro lado, por mais que muitos acontecimentos sejam imprevisíveis, os líderes de todo o mundo já podem se preparar para desafios inevitáveis. As alterações demográficas, a globalização, o aparecimento de novas potências emergentes, a escassez de recursos essenciais, alterações climáticas, evolução tecnológica, a competição pelo conhecimento e a responsabilidade social, são macro-tendências que devem pautar o planejamento de cada um dos chefes de Estado para desenvolver um plano de governo mais adequado às necessidades da população, que proporcione desenvolvimento econômico e social para todos.
Adicionalmente, o crescimento educacional e socioeconômico, combinado com o acesso rápido às novas tecnologias e redes sociais, tem feito com que as reações das pessoas sejam mais espontâneas, de maior impacto e mais rápidas. Os recentes movimentos no mundo árabe são exemplo desse fato.
Sem dúvida nenhuma, o cenário atual pede líderes cada vez mais comprometidos com seus países, que se empenhem em melhorar a qualidade de vida da população como um todo, fortalecendo a economia e diminuindo a corrupção. Com as crescentes interdependências e complexidades, se tem sentido a falta de políticos visionários e inspiradores que consigam olhar o futuro além dos ciclos eleitorais e assim propor estratégias capazes de garantir que os mercados se desenvolvam de forma sustentável, responsável e inclusiva.
Esse tema, em especial o impacto do ciclo eleitoral de 2012, tem merecido uma ampla análise pelas comunidades acadêmica e empresarial em todo o mundo. Para coordenar essa reflexão, The Yale World Fellows, program da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, a HEC Paris, na França, o Center for Corporate Governance da Universidade de Tsinghua, na China, a Hertie School of Governance, na Alemanha, e a Roland Berger Strategy Consultants estabeleceram um fórum aberto de discussão sobre as implicações e consequências, procurando ajudar os líderes nas suas tomadas de decisão.