Título: Alckmin vê 'leniência do governo' em invasão da Câmara
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2006, Especial, p. A14

A invasão da Câmara por sem-terras do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST) levou o pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, a atacar a " falta de autoridade " e a " leniência do governo no cumprimento da lei " , o Palácio do Planalto e o PT emitiram notas defensivas, na qual procuram evitar qualquer associação do governo e do partido com os invasores. A invasão acirra o ânimo de tucanos e petistas na pré-campanha. O PSDB viu no episódio uma oportunidade para desgastar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim como o PT aproveitou-se dos ataques do PCC em São Paulo para questionar o governo Geraldo Alckmin.

Alckmin assistiu às cenas de vandalismo pela televisão, na sede do PSDB, na companhia da cúpula do PFL e o pré-candidato a vice de sua chapa, senador José Jorge. O Planalto reagiu primeiro, por meio de uma nota assinada pelo porta-voz da Presidência da República, André Singer.

Na nota, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classifica a ação do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MSLT) como " um grave ato de vandalismo contra o Parlamento " . Afirma também que " a agressão (...) fere os princípios da democracia e deve ser tratada com o rigor da lei " . A exemplo do que faria o PT ao longo da tarde, o Planalto faz uma ressalva: " A (Presidência) está segura de que os movimentos sociais brasileiros não se identificam com atitudes de violência cometidas contra instituições cuja liberdade e soberania foram tão difíceis de conquistar " .

O ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) também emitiu nota: " Aqueles que apedrejaram a democracia (...) não colaboraram em nada para o avanço da democracia " , disse. Segundo Thomaz Bastos, o " uso ilegítimo da força será contido pelas penas da lei " . O ministro também colocou a Polícia Federal à disposição " para participar da persecução criminal dos responsáveis pelo ato de vandalismo " .

Na sede do PSDB, Alckmin tratou de estabelecer a vinculação entre os sem-terra com o governo e o PT. " Isso é resultado da falta do governo federal de colocar, de maneira muito clara, uma posição de autoridade e de cumprimento da lei e de ir contra pessoas que agem à margem da lei " , disse. Segundo o tucano, o que ocorre é que " o governo acaba estimulando esse tipo de comportamento e esse tipo de movimento. Claro, o PT não está dando bom exemplo " .

Para Alckmin, a invasão pode ser considerada também como " resultado do estímulo do próprio governo federal a esses movimentos, inclusive do presidente da República, que recebe líderes desses movimentos " . O tucano referia-se à audiência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao MST, na qual chegou a usar um chapéu dos sem-terra, e ao fato - " lamentável " - de a invasão da Câmara ter sido comandada pelo secretário nacional dos Movimentos Populares do PT, Bruno Maranhão, que também foi recebido por Lula no Palácio do Planalto, ano passado.

A " nota pública " divulgada pelo presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini, não faz qualquer alusão ao fato de o líder da invasão ser integrante da Executiva Nacional do partido. Limita-se a expressar " profundo repúdio aos atos de violência " e informar que o líder Henrique Fontana (RS) fizera um pronunciamento no qual " expressou o sentimento geral do PT diante deste lamentável episódio " .

Fontana afirmou que os invasores não representavam " partido político nenhum " , e que os movimentos sociais não deveriam ser criminalizados. Enquanto isso, o senador Leonel Pavan (PSDB-SC) lembrou que Lula, na campanha eleitoral, afirmou que em seu governo não haveria invasões porque os movimentos sociais eram como seus filhos com os quais saberia tratar. " Lula, aí estão seus filhos, quebrando vidraças e invadindo o Congresso " . O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Roberto Busato, considerou a invasão um ato " de vandalismo típico de Estado anárquico " . O presidente em exercício do STF, Gilmar Mendes, disse que é preciso " preservar o respeito às instituições e encaminhar as reivindicações dentro das regras democráticas " .