Título: Petróleo ameaça retomada na UE, diz FMI
Autor: Robert Wielaard
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2006, Internacional, p. A11
A recuperação econômica em curso nos 12 países da zona do euro pode não se sustentar, em parte devido ao aumento dos preços do petróleo, disse o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Michael Deppler, diretor do Departamento Europeu do Fundo, afirmou durante uma reunião dos ministros das Finanças da zona do euro que eles tiveram "um ano razoavelmente bom" graças a algumas reformas.
Falando a jornalistas depois, ele disse que a "zona do euro não ganhou crédito o suficiente [nos mercados financeiros] para o que foi feito no front das reformas estruturais". Em alguns campos, disse, a zona do euro gerou mais crescimento do que os EUA nos últimos anos. Mesmo assim, concluiu, continua pouco claro se a recuperação da região pode se sustentar em 2006.
A Comissão Européia espera que a economia da área do euro registre uma expansão de 2,1% em 2006, acima da de 1,3% de 2005.
O FMI é mais cauteloso. "O cenário básico indica que o crescimento real do PIB deve permanecer perto de 2%", segundo o relatório. "Entretanto, apesar de ser possível uma recuperação sustentável acima desse ritmo, parece improvável que isso ocorra, por causa das tendências de aumento de custos, incluindo aí preços maiores do petróleo, do fortalecimento do euro e por causa de alguns fundamentos fracos, como a década de pouco aumento de produtividade e o início do declínio populacional, que deve começar em 2010."
Deppler afirmou ainda que a inflação da zona do euro está crescendo rápido demais. A União Européia estima que tenha ficado em 2,5% em maio, acima do limite de 2% previsto Banco Central Europeu. A inflação vem sendo puxada para cima pelo aumento dos preços do petróleo e dos preços praticados no setor de serviços.
O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, disse que será vigilante em relação aos aumentos de preços enquanto a economia da Europa acelera, o petróleo aumenta e os consumidores se endividam mais para comprar carros e casas. Espera-se que o banco aumente as taxas de juros nesta semana para conter a inflação.
Em seu relatório sobre a zona do euro, divulgado ontem, o FMI disse esperar que a inflação fique acima de 2% pelo resto do ano, recuando só em 2007. Além dos riscos da alta de petróleo, ele cita o pouco entusiasmo dos países em relação a reformas estruturais quando suas economias estão indo bem. E o alto desemprego estaria segurando as perspectivas de crescimento.
Ainda assim, advertiu o BCE a ser cauteloso quanto ao ritmo de aumento de sua taxa de juros.
Enquanto as reformas fiscal, trabalhista e outras "foram levadas a cabo nos últimos dez anos, os resultados foram positivos, mas não decisivos", disse o relatório. "A utilização do trabalho ainda é baixa, o desemprego é alto e o crescimento da produtividade é decididamente desapontador", disse.
Quanto à Itália, economia em maior dificuldade na região, o FMI sugeriu o remédio mais amargo, isto é, cortes drásticos de gastos. O déficit público este ano deve superar 4,6% do PIB, bem acima dos 3% previstos para os países da zona do euro. Ontem mesmo, o governo italiano informou que estudo um pacote de cortes no orçamento.