Título: Lupi diz que só sai do governo se for abatido a bala
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Fonte: Valor Econômico, 09/11/2011, Política, p. A10

Apoiado pela maior parte de seu partido, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), afirmou ontem que resistirá e fará de tudo para manter-se no cargo. Lupi rebateu as denúncias de corrupção em sua Pasta, e disse contar com o apoio da presidente Dilma Rousseff para permanecer.

A seu favor, Lupi contou ontem com uma declaração do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de que não há indícios de sua participação direta nas supostas irregularidades no Ministério do Trabalho. No Palácio do Planalto, no entanto, a entrevista coletiva concedida pelo ministro após seu encontro com a cúpula do PDT foi vista com reservas. Lupi é o presidente licenciado do partido.

Em uma entrevista repleta de lances teatrais, o ministro disse que deve inclusive resistir à reforma ministerial prevista para os próximos meses. Lupi está no comando do Ministério do Trabalho desde a administração de Luiz Inácio Lula da Silva, e seu nome consta da lista dos ministros que poderão deixar o governo quando Dilma tiver de trocar seus auxiliares que forem disputar as eleições de 2012.

"Para me tirar, só abatido a bala. E tem que ser bala forte, porque sou pesadão", ironizou o ministro, acrescentando duvidar que Dilma o demita devido ao fato de a presidente o conhecer "bem" há 30 anos. "Eu tenho santo forte. Eu ainda vou carregar o caixão de muita gente que quer me ver carregado."

Lupi contou como foi seu rápido encontro na véspera com a presidente. Narrou que Dilma lhe perguntou se estava disposto a lutar até o fim para rebater as denúncias de irregularidades. Como sua resposta foi positiva, complementou, teria então ouvido de Dilma um "vai em frente". Integrantes da cúpula do PDT disseram esperar que a relação histórica da presidente com o partido conte a favor de Lupi. Dilma ajudou a fundar o PDT no Rio Grande do Sul, mas depois deixou a sigla para aderir ao PT.

Matéria publicada na última edição da revista "Veja" relatou que auxiliares do ministro teriam cobrado propinas de organizações não governamentais contratadas pelo Ministério do Trabalho. Foram citados o deputado federal Weverton Rocha (PDT-MA), ex-assessor de Lupi, Anderson Alexandre dos Santos, até sábado coordenador-geral de qualificação do ministério, e o ex-chefe de gabinete de Lupi Marcelo Panella. O jornal "O Globo" publicou reportagem segundo a qual a Polícia Federal e a Corregedoria-Geral da União (CGU) investigariam desvios de verbas por ONGs que teriam convênios com a Pasta.

Ontem, Lupi reconheceu que pode haver falhas no sistema de monitoramento de convênios do Ministério do Trabalho. Argumentou ainda que a troca de funcionários terceirizados por concursados deixou essa área da Pasta "sem memória". Destacou, porém, que as denúncias são anônimas, não estão fundamentadas com provas e devem-se a interesses empresariais contrariados com a defesa dos direitos dos trabalhadores e ao corte de pagamentos de convênios com irregularidades.

Lupi também mobilizou assessores do Ministério do Trabalho para distribuir documentos que visavam sustentar seus argumentos, e chegou a divulgar um e-mail enviado à revista "Veja" por Giles Azevedo, chefe de gabinete da presidente Dilma, para negar que tivesse ouvido relatos de supostas irregularidades na Pasta.

Apesar de os deputados Miro Teixeira(RJ) e Reguffe (DF), que defendeu publicamente o afastamento do ministro até a conclusão das apurações, e do senador Pedro Taques (MT) terem protocolado na Procuradoria-Geral da República um pedido para que o caso seja investigado, Lupi obteve ontem o apoio da maioria da bancada de seu partido. Num primeiro momento, o documento seria subscrito por mais parlamentares. Mas houve um recuo depois que o próprio Lupi decidiu pedir uma apuração ao Ministério Público. O Palácio do Planalto havia sinalizado que não aceitaria ter um ministro com um processo no Supremo Tribunal Federal (STF), motivo que levou à queda do ex-ministro do Esporte Orlando Silva.

"O episódio uniu mais o partido. Com o ministro Lupi, sai o PDT. O ministro Lupi não tem substituto", afirmou o líder da legenda na Câmara, Giovanni Queiroz (PA). "Sai o PDT, se necessário, do governo, tamanha a credibilidade do ministro conosco e a solidariedade absoluta do partido. O partido não vê a queda do ministro Lupi como opção."