Título: PT pode abrir mão da mesa da Câmara para acomodar pemedebistas aliados
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2004, Política, p. A6

A bancada do PT na Câmara começa, nesta semana, a discutir abertamente a sucessão do presidente da Casa, João Paulo Cunha. Candidato da esquerda partidária, o deputado Walter Pinheiro (BA) acha possível fazer um debate sem traumas, apesar das divisões internas na bancada. Pinheiro afirmou que só apresenta a candidatura em plenário se tiver apoio do partido. Depois de o mineiro Virgílio Guimarães ter conseguido o apoio oficial do PT do Estado à candidatura dele, outros deputados podem usar o mesmo artifício. "É natural que os Estados busquem apoiar candidatos à presidência da Câmara. Se a Bahia quiser me apoiar, será ótimo", disse Pinheiro. Dentro da bancada, há petistas que não descartam a possibilidade de, durante o jogo político, prosperar a tese de alteração das presidências, ou seja, a concessão do Senado para o PT e da Câmara para o PMDB. Isso poderia acomodar melhor a coalizão de governo, mas os pemedebistas ainda acham remota a possibilidade. Caso houvesse a alternância, a presidência da Câmara poderia ficar com o deputado Michel Temer (SP), que pleiteia o cargo nos bastidores, e o PT decidiria o novo presidente no Senado. Com isso, Temer pode facilitar a vida do governo e cancelar a convenção nacional do PMDB, marcada para o fim de semana, quando o partido decidirá se permanece ou não na base de sustentação do governo. A dificuldade desta equação é convencer a bancada do PMDB do Senado. O atual líder da bancada, Renan Calheiros (AL), quer ocupar a presidência da Casa. "Ainda há muito tempo para discutir isso no PT. Nada pode ser descartado. Não vejo como um bicho de sete cabeças dar a presidência da Câmara para o PMDB e ficar com o Senado", disse o deputado Walter Pinheiro, apesar de interessado na permanência da presidência da Câmara com o PT. O líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP) - também pré-candidato -, disse que marcará uma reunião da coordenação política, possivelmente hoje, para começar a discutir a sucessão. Houve uma tentativa de reunião ontem, mas poucos parlamentares puderam comparecer. Apesar de todos os petistas estarem cientes de que o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é decisivo na disputa, todos esperam que a vontade da bancada também seja considerada pelo Palácio do Planalto.