Título: Preços da construção não caem mesmo com redução de imposto
Autor: Samantha Maia
Fonte: Valor Econômico, 05/06/2006, Brasil, p. A2

Quatro meses depois de o governo federal ter decretado a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para 13 itens de materiais de construção e alíquota menor para outros 28, não houve queda de preços na maioria dos produtos.

A caixa d'água, por exemplo, de acordo com levantamento do Sindicato da Indústria da Construção Civil (SindusCon), no Estado de São Paulo, subiu 7,86% de janeiro a maio. Em março, no entanto, o preço permaneceu estável, e as altas maiores aconteceram em abril (3,17%) e em maio (3,79%). Outros preços que subiram neste mesmo período foram os da porta de madeira (6,88%), do vaso sanitário louça branca (2,24%), da torneira cromada para cozinha (0,55%) e do vidro liso transparente (0,55%).

No acumulado deste ano, os índices que acompanham a inflação dos produtos da construção civil subiram, inclusive, acima de outros índices de preços. Pelas estatísticas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), os preços no atacado subiram 0,22%, enquanto os bens e serviços ao consumidor aumentaram 1,33% e o Índice Nacional da Construção Civil (INCC) registrou alta de 1,77%, sempre considerando a medição vinculada ao IGP-M.

O decreto do governo entrou em vigor em 8 de fevereiro. Embora os dados acumulados não indiquem queda de preço no setor, quase todos os itens apresentaram inflação menor no mês de março.

Para os economistas que acompanham inflação ou o setor de construção, parte do efeito benéfico da redução de impostos já foi incorporada aos preços. Em muitos casos ela não foi maior ou não resultou em queda de preço ao consumidor porque muitos produtos da construção têm commodities internacionais como matéria-prima e ficam sujeitos à variação de preços desses insumos. A Rosenberg & Associados acompanha a evolução de preços internacionais de uma cesta de commodities metálicas. No acumulado do ano até 18 de maio, ela apresentava uma alta de 33,5% em relação ao custo médio da mesma cesta no ano passado.

Dessa forma, a medida do governo pode ter ao menos impedido um aumento maior dos produtos, hipótese que também se sustenta nos números do INCC-M. Este índice é dividido em materiais, serviços e mão-de-obra. Em março deste ano, o item material cresceu apenas 0,15%, após aumento de 0,45% em fevereiro. Em abril, houve nova desaceleração, com alta de 0,11%.

A alta de 0,81% do INCC-M em maio foi puxada pelos produtos que possuem metais como insumo. Entre eles, destacam-se os condutores elétricos (24,51%), as esquadrias de alumínio (0,47) e as ferragens para esquadrias (1,35). O cimento também aumentou (1,04%) - depois de quase dois anos em queda -, principalmente devido ao aquecimento da demanda. Só em São Paulo, segundo o SindusCon, esse produto subiu 5,06%.

Salomão Quadros, coordenador de Análises Econômicas da FGV, avalia que, se a evolução do índice realmente significar que os preços dos materiais foram amortecidos pela alteração nas alíquotas do IPI, não haverá novos efeitos decorrentes da medida governamental. "Os preços caem uma só vez", diz.

A economista Ana Maria Castelo, consultora da FGV Projetos, também acredita que a maior parte do efeito já foi incorporada aos preços. Ela ressalta que em alguns produtos é possível perceber a queda. Entre os poucos materiais que ficaram mais baratos de janeiro a maio, em São Paulo, estão a tinta à óleo (queda de 4,29%), os tubo de PVC (redução de 3%) e o azulejo branco (menos 0,32%).