Título: Economistas projetam novo recuo da taxa de desemprego em setembro
Autor: Machado, Tainara
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2011, Brasil, p. A3
O mercado de trabalho já começa a sentir os efeitos do desaquecimento da economia brasileira, mas ainda assim, principalmente por causa de um efeito sazonal, a taxa de desocupação da População Economicamente Ativa (PEA) deve cair de 6% para um percentual entre 5,7% e 5,9% na passagem de agosto para setembro, apontam economistas consultados pelo Valor. O dado oficial será divulgado na quinta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para Fábio Romão, economista da LCA Consultores, é uma questão de sazonalidade a queda da taxa de desemprego no último quadrimestre do ano. Em setembro e outubro, a indústria realiza contratações para fortalecer a produção e fazer frente à demanda que acompanha as festas de fim de ano. Em dezembro, é a procura por emprego _ e consequentemente a PEA _ que diminui.
Esse comportamento da PEA, no entanto, não está restrito a dezembro e tem provocado um efeito estatístico que contribui para manter a taxa de desocupação estável ou em queda sem que a ocupação aumente proporcionalmente, explica Maurício Molan, economista-chefe do Santander. "O ritmo de expansão da população ocupada já tem sido bem menor. A taxa de desemprego poderia estar subindo", afirmou o economista, que espera taxa de desocupação de 5,9% no último mês.
Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, concorda com essa avaliação e, mesmo com a queda da relação entre desempregados e PEA projetada para 5,7% no último mês, estima que a população ocupada apenas se mantenha.
Em sua opinião, que é compartilhada por outros economistas consultados pelo Valor, após o período sazonalmente forte de contratações pela indústria e pelo comércio no fim do ano, a taxa de desemprego deve aumentar em 2012. Mais pessimista do que a média, Rosa acredita que a desocupação pode alcançar 7,5% até meados de 2012.
Molan, do Santander, espera alta mais amena no primeiro semestre do próximo ano, para 6,5% de acordo com taxa dessazonalizada, como efeito da desaceleração da economia observada no terceiro trimestre de 2011 e a projeção de que a atividade econômica continue a mostrar desaquecimento nos próximos dois trimestres.
Nem todos, no entanto, veem sinais tão claros de que já há reversão da tendência de queda da taxa de desemprego observada ao longo de 2010 e 2011. Rafael Bistafa, economista da Rosenberg & Associados, lembra que este costuma ser um dos últimos segmentos a reagir quando há uma desaceleração em curso porque as empresas hesitam em demitir mesmo com sinais de que há queda da demanda.
José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, também avalia que é cedo para afirmar que há uma mudança de direção no rumo do mercado de trabalho. "É difícil dizer quando vai aparecer na taxa de desocupação esse efeito da desaceleração", afirmou. As projeções para 2012, em sua opinião, também são dificultadas pelo aumento do salário mínimo já contratado para 2012, estimado em 14% (soma do Produto Interno Bruto (PIB) de 2010, de 7,5%, mais a inflação de 2011, estimada em 6,5%). Gonçalves afirma que alguns empresários podem ficar mais reticentes em contratar por causa do aumento de custos, mas evita fazer afirmações categóricas.
Outro efeito do mínimo será sobre a renda, que ainda deve aumentar. Para o economista da LCA, Fábio Romão, o salto no próximo ano será de 3,5%, pouco superior aos 3,4% do crescimento real da renda esperado para 2011. "Só vai ser isso por causa do importante ganho do salário mínimo. Se não, ficaria abaixo [do crescimento] de 2009, mas não é um cenário de crise", afirmou. Newton Rosa, da SulAmérica, ressalta que a atual situação do mercado de trabalho ainda favorece reajustes salariais.