Título: Colômbia usa acesso aos EUA para atrair empresas brasileiras
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 05/06/2006, Brasil, p. A6

Interessado em desfazer a imagem da Colômbia como um país vinculado aos interesses dos Estados Unidos e de costas para a América do Sul, o presidente colombiano recém-reeleito, Álvaro Uribe, quer aproveitar as excelentes relações com o governo Luiz Inácio Lula da Silva para estimular os investimentos brasileiros. Ele defende o acordo de o livre comércio entre a Colômbia e os Estado Unidos como oportunidade para investimentos de exportadores no país. A aproximação entre os dois países é estimulada com entusiasmo no Itamaraty. A Colômbia hoje é um dos principais aliados do Brasil no projeto de uma associação de livre comércio em todo o continente, diz o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim. "A Colômbia, que sempre resistiu às iniciativas de livre comércio conosco, desta vez, com o presidente Uribe, mostra um engajamento muito positivo", comentou Amorim, satisfeito com o empenho do governo colombiano em firmar um acordo de livre comércio dos países andinos com o Mercosul.

A aproximação entre Brasil e Colômbia extravasou o terreno comercial e chegou às iniciativas conjuntas em matéria de segurança. O Brasil foi um dos primeiros a confirmar a participação na reunião de secretários de Defesa do continente que Uribe promoverá no segundo semestre. A Colômbia inaugurou as exportações do jato militar Super-Tucano da Embraer, com uma encomenda de 25 aeronaves no fim de 2005, após uma licitação em que os concorrentes acusaram os colombianos de favorecerem a empresa brasileira.

"A compra dos Super-Tucanos foi um sinal político da maior importância, demonstração da confiança entre os dois países", define o embaixador da Colômbia no Brasil, Mario Galofre Cano, um conhecedor dos assuntos brasileiros enviado pelo governo Uribe ao Brasil no ano passado, para substituir a polêmica embaixadora Cláudia Rodriguez de Castellanos, que renunciou oito meses após nomeada, sob acusações de prestar mais atenção às tarefas de sua igreja evangélica, a Missão Carismática Internacional, que à embaixada.

Nas recentes crises na Comunidade Andina, a última delas em abril, provocada pela decisão da Venezuela de abandonar o bloco, Uribe veio ao Brasil para trocar impressões com Lula. Na visita de abril, o colombiano tratou também de um dos poucos temas irritantes na relação entre os dois países, a obrigação de contratar os chamados "práticos" (comandantes de rebocadores) imposta a navios colombianos que trafegam pelos rios amazônicos com trechos brasileiros. Dispendiosa, a contratação dos práticos, exigida aos navios brasileiros, foi dispensada pela Marinha para um número limitado de grandes embarcações de bandeira colombiana, segundo informou Lula a Uribe.

Também durante a visita, Uribe e Lula acertaram o fim das restrições à troca de sêmen e embriões bovinos entre os dois países, uma demanda insistente dos pecuaristas da Colômbia, que têm interesse em ampliar o comércio de bovinos com o Brasil.

A Colômbia é o único vizinho com quem o Brasil não tem ligação por estrada. Um sinal do interesse colombiano em estreitar relações econômicas com o Brasil é a decisão de concluir, no segundo mandato de Uribe, a estrada que ligará ao litoral colombiano o Tio Putumayo, onde uma hidrovia já faz a conexão entre os dois países.

Patrocinador de um acordo siderúrgico bilateral que não chegou a vingar, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, o embaixador Galofre comemora a decisão da Siderúrgica Tubarão, formalizada há duas semanas, de um acordo que poderá levar a empresa brasileira a abastecer, com matéria-prima importada da Colômbia, em cinco anos, 20% de suas necessidades anuais de coque siderúrgico. Neste ano as compras devem chegar a 1,2 milhão de toneladas. Negociação semelhante está sendo realizada pela Cosipar, grande produtora de ferro-gusa do Pará.

Com litoral no Pacífico e no Atlântico, a Colômbia tenta mostrar ao setor privado que pode servir de ponte eficiente para vendas de produtos fabricados lá aos Estados Unidos. As empresas brasileiras já vêm explorando essa proximidade e a estabilidade de regras que caracteriza a economia colombiana. Já operam no país a Azaléia, a Odebrecht e a Camargo Corrêa, a Tramontina, a WEG, a Busscar e a Marcopolo e a Boticário.

Nos últimos dois anos, os responsáveis pelos principais investimentos foram a Petrobras, a Gerdau e a Sinergy, do empresário german Eframovich, que comprou a Avianca por US$ 67 milhões e a assunção de US$ 300 milhões em dívidas da companhia. A Petrobras tem investidos no país US$ 600 milhões, na exploração e produção em 12 blocos, entre eles o campo de Guando, onde se descobriu a maior reserva identificada nos últimos 15 anos. A Gerdau comprou participação em duas das principais siderúrgicas da Colômbia, a Diaco e a Sidelpa.

Para o embaixador colombiano no Brasil, os investimentos brasileiros no país são a melhor maneira de integrar os dois mercados, com maior potencial que o programa de "substituição competitiva de importações" brasileiro, que busca produtos da vizinhança para substituir, no mercado do Brasil, fornecedores de outras partes do mundo.

O acordo com os Estados Unidos exigirá uma adaptação da agricultura colombiana, cujos produtores de soja e milho tendem a perder espaço para as importações de origem americana, analisa o diplomata. "A agricultura terá de buscar alternativas e podemos usar tecnologia brasileira em setores como o biodiesel", sugere.