Título: Mudanças no setor fazem estrangeiras acelerar projetos
Autor: Laguna, Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2011, Empresas, p. B10

Após a celeuma inicial envolvendo o regime automotivo que elevou a carga tributária para carros importados, montadoras estrangeiras começam a falar em acelerar os planos de erguer fábricas no país para atender às exigências de nacionalização colocadas pelo governo.

Ontem, a fabricante de veículos chinesa Chery informou que estuda formas de antecipar etapas na construção de sua fábrica em Jacareí, no interior de São Paulo, cujo investimento é estimado em US$ 400 milhões. Após algumas mudanças de layout no projeto - de forma a aumentar sua velocidade -, a empresa informou que espera receber nos próximos 30 dias a licença ambiental para instalação do empreendimento.

Já a Sinotruk - uma das maiores fabricantes de caminhões pesados da China - informou que montou uma equipe para desenvolver o projeto de uma fábrica no Brasil, adiantando um passo antes previsto apenas para 2015.

Os anúncios das duas companhias ocorrem no momento em que se negocia a flexibilização do regime automotivo, no sentido de permitir que novos fabricantes possam chegar gradualmente ao índice mínimo de 65% de peças nacionais usadas na fabricação de veículos.

Enquanto o Planalto sinaliza, mas não confirma mudanças nas regras aos novos entrantes, as empresas com interesse no mercado brasileiro tentam reforçar o compromisso de produzir localmente para convencer o governo a adotar uma resolução favorável a seus investimentos. Hoje, o tema volta a ser discutido em reunião marcada entre executivos de importadoras e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Fernando Pimentel.

"Não tememos o aumento na nacionalização. Apenas queremos mais tempo para chegar a isso", comentou ontem o presidente da Chery Internacional, Zhou Biren, em entrevista coletiva a jornalistas, por meio de vídeoconferência.

A montadora de origem chinesa espera começar a produzir em Jacareí com índice de peças nacionais próximo a 40%, alcançando o patamar estabelecido pelo novo regime automotivo em um prazo de três a quatro anos. No momento, a Chery tenta atrair seus fornecedores na China para o parque industrial que será construído no Brasil, no entorno de sua fábrica, além de negociar, paralelamente, com a indústria de componentes brasileira.

A prioridade, afirmou Biren, são as peças maiores, que têm maior custo no transporte do país asiático ao Brasil.

Luis Curi, presidente da Venko Motors - distribuidora da Chery no Brasil - afirmou que a fábrica poderá sair alguns meses antes do cronograma inicial - cujo término das obras é previsto para setembro de 2013 -, mas não muito antes disso. "Esse prazo já está apertado."

Tem se tornado constante o interesse de marcas chinesas em se instalar no Brasil, mas parte delas ainda espera uma posição mais clara sobre como será a cobrança de tributos a ser adota pelas autoridades governamentais para levar seus planos de investimentos adiante.

A Sinotruk, que se destaca como gigante na fabricação de caminhões pesados da China, só deverá dar mais detalhes sobre qual será o tamanho de seu investimento após conversar com membros do governo federal, o que está previsto para a primeira quinzena de novembro.

Antes disso, discute incentivos fiscais com o governo do Paraná - principal candidato a receber o projeto, uma vez que a Elecsonic - importadora dos caminhões da marca e que lidera o projeto - tem um terreno de 275 mil metros quadrados em Curitiba.

A ideia é iniciar a operação com a montagem dos conjuntos de peças enviadas da China, o chamado regime CKD. Posteriormente, a unidade poderá evoluir na nacionalização de componentes, disse Joel Anderson, diretor-geral da Elecsonic, durante a Fenatran, feira internacional do setor de transportes realizada no Pavilhão de Exposições do Anhembi, na zona norte da capital paulista.

Rodrigo Teixeira, diretor executivo da Metro-Shacman - que começa a comercializar os caminhões da chinesa Shacman a partir de janeiro em sete revendas - diz que as exigências de nacionalização de peças podem aumentar brutalmente os investimentos em uma fabrica, dada a necessidade de adicionar linhas de produção.

Por isso, incertezas sobre quais índices serão cobrados - e em quais prazos - tornam difícil dimensionar os investimentos necessários para a construção de uma fábrica no país, algo que também está nos planos da Shacman após uma primeira fase de desenvolvimento da rede de distribuição.