Título: Factorings criam cooperativa para comprar recebíveis
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 05/06/2006, Finanças, p. C2

De olho em operações que hoje estão fora do seu alcance, como compra de recebíveis de cartões de crédito, e também na redução de custos de serviços tradicionais como a cobrança de duplicatas na rede bancária, as empresas de fomento mercantil (factoring) pretendem colocar em funcionamento até o fim do ano a primeira cooperativa de crédito do setor. A experiência começará por Santa Catarina, com a Cooperfac, mas em seguida deve se estender aos 19 Estados onde existem sindicatos filiados à Associação Nacional das Sociedades de Fomento Mercantil - Factoring (Anfac).

Segundo o presidente do sindicato das regiões norte e centro-oeste de Santa Catarina (Sinfac-NCO), Tarcísio Zonta, a idéia é aumentar a rentabilidade do setor, que no ano passado girou R$ 50,7 bilhões nos bancos comerciais no país. A instituição começará a operar vinculada a uma central de cooperativas já existente (o Sistema de Crédito Cooperativo ou a Unimed), que é fiscalizada pelo Banco Central, mas a intenção da Anfac é ter estrutura própria.

A cooperativa também vai trabalhar conveniada ao Banco do Brasil e irá absorver contas correntes das empresas e folhas de pagamento dos funcionários, além de desenvolver produtos como seguros, contas garantidas para cobertura de necessidades momentâneas de caixa das factorings e linhas de financiamento. A capitalização será feita com cotas subscritas pelos associados, de R$ 1 mil no caso de pessoas físicas e de R$ 5 mil para pessoas jurídicas.

Mas o filão mais apetitoso será a possibilidade de comprar recebíveis de cartões de crédito, segmento que deve movimentar R$ 160 bilhões no país neste ano. A operação é restrita às instituições financeiras (categoria na qual as factorings individuais não se enquadram), que adiantam aos lojistas os recursos que em geral eles levariam de 30 a 60 dias para receber das administradoras de cartões.

Agora, segundo Zonta, a cooperativa também poderá antecipar os créditos cobrando dos lojistas as mesmas taxas que os bancos comerciais, na faixa de 1,9% a 2% ao mês, porque "não há risco nenhum" nas operações. O ganho da instituição reverterá em benefícios para as factorings, como a distribuição de resultados as associadas ao fim de cada exercício. Nas operações tradicionais com duplicatas, o "fator de compra" cobrado pelas empresas de fomento, hoje de 4,3% ao mês, chega a ser o dobro das taxas bancárias.

Uma das vantagens mais imediatas com o novo modelo, conforme Zonta, será a redução das tarifas pagas pelas factorings associadas para colocar em cobrança bancária as duplicatas adquiridas de seus clientes.

Hoje o custo chega a R$ 1,80 por título, mas a cooperativa pagará apenas R$ 1 a R$ 1,10 por operar no interbancário e cobrará R$ 0,50 da empresa de fomento. A diferença será coberta pelo rendimento das aplicações da factoring na cooperativa. A redução de custo aumentará a rentabilidade das empresas ou poderá ser transferida para seus clientes.

"Só nas regiões norte e centro-oeste de Santa Catarina as empresas movimentam R$ 300 milhões por mês", revela o empresário. Isto representa de 60 mil a 75 mil títulos colocados em cobrança nos bancos comerciais. Além disso, segundo Zonta, cerca de 10% do valor "dorme" diariamente nas contas correntes sem rentabilidade para as factorings. Já com a cooperativa elas terão rendimento equivalente ao CDI "cheio", porque a entidade é isenta de tributos como IOF, PIS, Cofins, Imposto de Renda e CPMF, afirmou.