Título: Aumento do crédito à pessoa física provoca elevação da inadimplência
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 05/06/2006, Finanças, p. C2

A forte expansão do crédito bancário está levando a uma lenta, mas contínua, expansão dos índices de inadimplência nos empréstimos a pessoas físicas. Em março, houve um discreto aumento nas operações com atraso com mais de 90 dias, de 7,3% para 7,4%. Mas visto num período acumulado de 12 meses o avanço é expressivo, representado 1,3 ponto percentual, segundo dados do Banco Central.

Na visão do Departamento Econômico do BC (Depec), o crescimento da inadimplência está ligado à oferta de crédito a segmentos da população até então não atendidos pelo sistema financeiro, sobretudo no financiamento de consumo.

O diagnóstico é que o movimento não significa deterioração das carteiras tampouco fragilização do sistema bancário, até porque as provisões têm acompanhado a expansão de crédito. Na verdade, seriam consequências já esperadas do novo posicionamento estratégico dos bancos, que fecharam acordos com varejistas para atender a não-clientes.

A conseqüência do aumento da inadimplência não seria a fragilização do sistema, mas a alta dos custos dos empréstimos, o que impede uma queda mais consistente dos "spreads" bancários médios. De abril de 2005 a abril de 2006, o "spread" a pessoas físicas registrou leve alta, de 42,6 para 43 pontos percentuais.

O chefe do Depec, Altamir Lopes, afirma que a tendência está ligada ao aumento de vendas de varejo. "As vendas cresceram bastante no final do ano passado e tem-se mantido nesse patamar mais elevado", disse.

A alta mais representativa na inadimplência ocorreu nas linhas de financiamento à aquisição de bens, exceto veículos, que passou de 9% para 10,8%, sempre na comparação de abril de 2005 e de 2006. No caso dos financiamentos de veículos, passou de 1,9% para 2,9%; no crédito pessoal, de 6% para 6,4%; e no cheque especial, de 5,1% para 7,5%.

Alguns desses segmentos do mercado de crédito que vem crescendo com alta velocidade. O financiamento para a aquisição de bens, exceto veículos, expandiu-se 31,4% em 12 meses, chegando a R$ 9,959 bilhões em abril. O financiamento de veículos aumentou 35% no período.

O aumento da inadimplência e a ligeira expansão dos "spreads" não estão impedindo, porém, a queda das taxas finais de juros cobradas das pessoas físicas. Em abril, o juro médio dos empréstimos foi de 57,8% ao ano, o mais baixo registrado na série estatística do BC; em março, a taxa média estava em 59% e, em abril de 2005, em 61,7%.

No período de um ano, a queda na taxa de juros é explicada pela redução dos custos de captação dos bancos - que passou de 18,9% para 14,8%. Em abril, em particular, o que mais pesou na queda do juro foi a redução do "spread", que caiu de 44 para 43 pontos percentuais.

Os índices de inadimplência das pessoas jurídicas vem se mantendo praticamente estáveis. Cresceram de 2,2% para 2,3% entre março e abril, mas mostram estabilidade em relação ao índice de 2,3% verificado em abril de 2005. O juro médio a empresas caiu levemente em abril, de 30,7% para 30,6% ao ano.