Título: Apoio de Brics depende de medida adequada
Autor: Moreira,Assis
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2011, Finanças, p. C10

O Brasil não recebeu ainda nenhuma proposta para ajudar no socorro financeiro a zona do euro e espera o resultado da cúpula europeia, hoje, para melhor definir seus próximos passos.

Em Paris, há dez dias, os ministros de finanças dos Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e Africa do Sul - sinalizaram no G-20 que, se as medidas europeias forem "adequadas", poderão articular alguma ajuda, preferencialmente por meio do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Ontem, autoridades da China sinalizaram que aguardam um pedido formal de assistência durante a cúpula do G-20 em Cannes, lembrando que na crise de 2009 emprestou US$ 50 bilhões ao FMI para socorrer países em dificuldades. O Brasil, na ocasião, emprestou mais de US$ 10 bilhões

De seu lado, o chefe do grupo de ministros europeus de finanças, Jean-Claude Juncker, foi incisivo, defendendo a "máxima participação" do FMI no plano de socorro europeu. Em Bruxelas, as indicações são de que o FMI poderia entrar com um terço da "otimização" do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês).

Mas os europeus são cautelosos quanto a fazer contatos diretamente com os emergentes. Não querem dar a impressão de que estão "passando o pires", porque isso ilustraria ainda mais sua vulnerabilidade, nota um observador da cena europeia.

O jornal popular alemão "Bild" publica em letras garrafais, em todo caso, a questão sobre se os chineses vão ajudar a salvar a zona do euro com seus bilhões de dólares. Também no mercado, uma potencial contribuição de países não europeus é considerada importante.

Conforme cálculos do Deutsche Bank, a zona do euro como um todo precisa refinanciar € 1,7 trilhão em 2012, o equivalente a 17,5% do PIB da região. A percepção é que mesmo se a China estiver disposta a aumentar seus investimentos em euros, um numero realístico de dinheiro chinês seria da ordem de € 150 bilhões, portanto pouco decisivo para resolver o problema europeu.

Para o Brasil, o FMI precisa estar pronto para responder rápido e eficientemente no caso de mais deterioração da economia mundial. Considera que fundos suficientes deverão estar disponíveis no curto prazo para responder a demandas de membros do FMI, não apenas da zona do euro, mas de outras partes do mundo.

O país mantém a proposta já submetida no G-20, na semana passada, de colocar à disposição do FMI recursos adicionais para o fundo socorrer países. Só desembolsaria o dinheiro em caso de real necessidade. As estimativas são de algumas centenas de bilhões de dólares, se muitos países participarem "voluntariamente", para dar uma sinalização forte aos mercados.

Mas os emergentes condicionam a concessão de recursos ao aumento de suas cotas na reforma de 2014, algo que americanos e europeus mostram certa resistência.

Nos últimos dias, surgiram novas propostas na Europa para atrair poupança externa. Mas somente hoje ficará mais claro de que forma o dinheiro externo poderia ajudar no socorro da Itália, Espanha e outras nações.

Em todo caso, o Brasil já avisou que, se houver acordo sobre financiamento bilateral pelo FMI, em troca de mais poder decisório mais à frente, alguns países podem mesmo anunciar o montante da contribuição adicional já em Cannes, no começo de novembro.