Título: Indústria pode desacelerar no 2º tri
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2006, Brasil, p. A3

A economia brasileira começou bem o ano, mas economistas esperam uma desaceleração da atividade no segundo trimestre. Ela deve ser mais forte na indústria e talvez não chegue ao comércio porque pode ser fruto de uma maior substituição de produção local por importações.

As taxas de crescimento projetadas para o PIB trimestral do período variam de 0,9%, da Mellon Global Investment, a 1% da Austin Rating, que representa a média das estimativas do mercado na comparação com o primeiro trimestre. A Tendências prevê uma expansão maior, de 1,4%, com um desempenho igual ao do primeiro trimestre sustentada no consumo das famílias. Esse crescimento será sustentado por uma indústria crescendo entre 0,6% a 0,7% na média de abril e junho, abaixo dos 1,2% de expansão alcançados no primeiro trimestre.

O IBGE divulga hoje a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) de abril. As expectativas são de uma taxa positiva na comparação com março e negativa ante abril de 2005 por conta de menor número de dias úteis em 2006. A Consultoria Econômica do Banco Itaú e a Tendências prevêem estabilidade na produção industrial em relação a março, enquanto a Mellon estima expansão de 0,2% e o Ipea, de 0,4%. Na comparação com abril do ano passado as previsões são de taxas negativas que variam de 0,4% a 1,8% por conta de um menor número de dias úteis em abril desse ano.

Solange Srour, da Mellon, desenha um cenário de menor ritmo de produção da indústria até junho. Ela projeta taxas de 0,2% para abril, 0,5% para maio e queda de 0,3% em junho. Esse desempenho mais fraco ela atribui ao crescimento das importações, principalmente de bens duráveis e de bens de capital, por causa do câmbio apreciado e da demanda aquecida devido ao aumento da renda. A Mellon trabalha com um câmbio de R$ 2,25 no final do ano.

Guilherme Maia, da Tendências, admite também que a importação poderá segurar um pouco a produção. Mas, isto não o impede de trabalhar com um crescimento da produção da indústria de 4% este ano, levando em conta a queda do juro e o aumento do consumo das famílias estimulado pela oferta de crédito e elevação dos salários.

A Consultoria Econômica do Banco Itaú também prevê 4% para o crescimento industrial de 2006. Mas, Aurélio Bicalho, economista do Itaú, considera que este percentual não sustenta um crescimento de 4% para o PIB este ano, conforme estima o governo.

Bicalho calcula que para o PIB crescer 4%, a indústria terá que crescer 5,2% no ano. "O que significa uma expansão trimestral da produção industrial de 2,2% por trimestre do segundo ao quarto trimestre", estima. A projeção do Itaú para o PIB de 2006 é algo entre 3,1% a 3,5%.

O Ipea evitou fazer projeções, pois divulga amanhã seus novos dados. Alex Agostini, da Austin Rating, acredita que a recente turbulência internacional provocada pela expectativa de alta dos juros americanos poderá gerar incerteza nos investidores e dar uma "desaceleradinha" no crescimento desse trimestre.

Carlos Thadeu, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), avalia que o comércio este ano deverá crescer 5%, superando a indústria. Em parte, por conta das importações de bens. Em maio, ele destacou que os bens não duráveis continuaram liderando as compras nas lojas e supermercados, com destaque para os alimentos devido a alta dos salários e aumento do crédito. "O movimento de maio foi grande por causa do Dia das Mães. Acredito que neste trimestre, o consumo puxe o PIB", disse Thadeu.

As consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito (SCPC) e ao Usecheque da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) confirmam o bom desempenho do varejo em maio. As consultas ao SCPC (vendas à prazo) aumentaram 6,6% no mês passado ante mesmo mês de 2005. As consultas ao UseCheque (vendas à vista) cresceram 9,4% no mesmo período de comparação. Em relação a abril, os dois indicadores apontaram altas superiores a 16%.