Título: Corrente majoritária da CUT ataca política econômica e defende reeleição de Lula
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2006, Política, p. A6
A Articulação da CUT, corrente dominante da central sindical, apresentou seu documento, no congresso nacional da entidade em São Paulo, propondo uma estratégia para ampliar a influência da central no governo. A corrente irá trabalhar para o apoio incondicional da CUT à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao mesmo tempo em que critica duramente a política econômica. O objetivo é tentar disputar a hegemonia sobre a formulação das políticas de governo. O documento de 50 páginas distribuído ontem para os delegados ao congresso, com o título "Fortalecer a Democracia e Valorizar o Trabalho", poderá ser emendado até o encerramento do congresso na sexta feira.
"Cabe à CUT disputar propostas de mudanças políticas e econômicas já na elaboração do programa de governo", afirma o texto relacionando em seguida uma série de ataques à política econômica. Segundo a Articulação, o regime de metas de inflação no país é "uma armadilha criada pelo conservadorismo da política monetária que torna a taxa básica de juros função automática da evolução dos níveis de preços". A conclusão do texto é que esta política gera um "efeito perverso" ao proporcionar uma pressão para a redução dos gastos públicos. A Articulação se posiciona contrária a qualquer política de contenção fiscal, "uma vez que, na observação da execução orçamentária, verifica-se, desde 2002, um incremento dos gastos com juros e encargos da dívida na ordem de 37,6%, uma redução dos gastos com pessoal da ordem de 9,5% e uma redução de investimentos e inversões financeiras na ordem de 52%".
Desembarcar da defesa do governo em função deste quadro, na opinião da corrente cutista, é uma atitude de "esquerdismo míope". Representantes desta crítica, na opinião da Articulação, "perfilaram-se lado a lado com o reacionarismo", numa alusão evidente ao PSTU, que tentou articular uma dissidência no movimento sindical durante o governo Lula, sem sucesso.
A central esboça algumas propostas que gostaria de ver contempladas em um eventual segundo governo petista. Cita a definição de um "salário mínimo necessário" que seria definido a partir de pesquisas de orçamento familiar. Este valor se tornaria uma meta a ser alcançada a longo prazo a partir de reajustes sucessivos feitos pelo governo considerando a inflação e a produtividade média da economia. O texto sugere um prazo de vinte anos.
A Articulação propõe ainda retomar a negociação no Congresso para a aprovação da reforma sindical que está paralisada desde o início do ano passado na Câmara dos Deputados e que, se aprovada, ampliará o seu papel negociador.
A estratégia da Articulação sindical bate de frente com a tática do governo de sacrificar candidaturas próprias do PT para aumentar as chances de aliança num segundo mandato. O comando da CUT quer verticalizar a campanha, favorecendo candidaturas aos governos estaduais absolutamente afinadas com o pensamento da entidade. "Para que o projeto popular se consolide em nível nacional é fundamental que tenham raízes nos Estados e municípios. Nesse sentido, é importante traçarmos uma estratégia de ação com as estaduais da CUT na disputa pela eleição de governadores e deputados construindo entendimentos com candidaturas que representem identidade com interesses de classe".
O apoio da Articulação da CUT à reeleição não representa em si novidade, uma vez que o comando da central tem fortes vinculações com o governo, sendo ministro do Trabalho Luiz Marinho, seu ex-presidente. Na abertura do evento, estiveram presentes o próprio presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), o pré-candidato petista ao governo paulista Aloizio Mercadante, e o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). A presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao longo da semana do congresso é aguardada, sem no entanto, haver confirmação.