Título: OAB pede que se investigue o presidente
Autor: Juliano Basile
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2006, Política, p. A7
Incomodada com o "nada sei" do presidente Lula, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entregou, ontem, ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, notícia-crime pedindo o aprofundamento das investigações sobre o possível envolvimento do presidente no escândalo do mensalão.
A OAB pede o aprofundamento das investigações em três pontos específicos. Primeiro, nas relações entre a Gamecorp, empresa do filho de Lula, Fábio Luiz da Silva, e a Telemar, que teria investido na empresa. Em seguida, a OAB cita o decreto presidencial que facultou ao Banco BMG (um dos envolvidos no mensalão) a atuar no crédito a funcionários federais. E, por fim, a entidade critica a "indesculpável e inexplicável omissão do presidente" no escândalo.
A notícia-crime significa, na verdade, um recuo da OAB. Em 8 de maio, a entidade chegou a votar o pedido de impeachment do presidente Lula, mas a proposta acabou vencida. Optou-se, então, por endossar a investigação feita por Antonio Fernando, que denunciou 40 envolvidos no mensalão ao Supremo Tribunal Federal.
O presidente da OAB, Roberto Busato, foi pessoalmente entregar a notícia-crime ao procurador-geral. "O 'nada sei' dito comumente pelo presidente foi a maneira que ele encontrou para se proteger", disse Busato. "Mas, tendo se protegido dessa forma, ele deixou a população brasileira muito insatisfeita com relação ao entendimento exato sobre o que o presidente da República sabia e o que não sabia", disse Busato.
Para Busato, há dúvidas se Lula foi traído por seus auxiliares mais próximos ou se sabia de tudo o que estava acontecendo.
A atitude da OAB mostra o incômodo com o fato de várias pessoas na lista dos 40 indiciados pelo mensalão serem próximas de Lula, como o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. O procurador-geral não encontrou nada que comprovasse que o presidente sabia do suposto esquema de compra de votos e de apoio político no Congresso e, por isso, sequer citou Lula nas 139 páginas de sua denúncia.