Título: Recapitalização dos bancos terá regras mais estritas
Autor: Moreira,Assis
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2011, Especial, p. A12
Os maiores bancos da Europa vão ter de buscar cerca de €108 bilhões de capital adicional no mercado para atenuar sua crescente fragilidade e evitar uma nova crise financeira "catastrófica". Os bancos serão levados a tentar resolver os problemas primeiro tentando atrair investidores e reduzindo dividendos e bônus. Isso será obrigatório para as instituições que depois tiverem de recorrer aos governos, como é o mais provável. A ida ao mercado é pré-condição para uma posterior ajuda dos governos ou do fundo de socorro.
Um "amplo acordo" sobre a recapitalização dos bancos foi confirmado ontem pela chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy. Os líderes das duas maiores economias da Europa, contudo, sinalizaram que falta muito trabalho até quarta-feira para dar uma "resposta comum, ambiciosa e duradoura" para a crise da zona do euro.
As divergências prosseguem sobre como garantir ao "plano abrangente" europeu três elementos: primeiro, reduzir substancialmente o peso da dívida da Grécia e decidir quanto, e de que maneira, os credores privados vão perder; segundo, a recapitalização dos bancos europeus; e terceiro, criar uma barreira de fogo (firewall) para Itália, Espanha e outros países, aumentando os recursos do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF, na sigla em inglês).
As três questões - Grécia, recapitalização e EFSF maior - estão intimamente ligadas. O tamanho da recapitalização, e seus detalhes, depende em parte da perda dos bancos com a redução da dívida grega, e quanto maior a perda para os bancos, maior a necessidade de os governos socorrerem os bancos e o EFSF dispor de mais recursos.
""As respostas são muito complexas porque exigem muito dinheiro", afirmou Sarkozy ao lado de Merkel, numa entrevista que começou com 90 minutos de atraso. "Os atuais desafios econômicos são profundamente sérios - pouco crescimento econômico, desemprego em alta, pressão sobre os bancos e riscos nos títulos soberanos", resumiu Herman Van Rompuy, presidente da União Europeia, tentando apressar os líderes no estabelecimento de compromissos.
O acordo alcançado pelos ministros de finanças foi para aumentar o capital de melhor qualidade dos bancos europeus a 9% até julho do ano que vem. Isso implica a necessidade de €108 bilhoes de euros de capital adicional para reforçar as reservas. A recapitalização seguirá uma estrita hierarquia: recorrer ao mercado, depois ao governo e só em última instância ao EFSF, o fundo desenhado para ajudar países e bancos.
"Posso dizer que isso só ocorrerá sob estritas condições", avisou o primeiro-ministro holandês Mark Rutte. Sarkozy e Merkel querem também que a Europa faça a taxação de transações financeiras. "Essa taxação é uma obrigação moral, política e econômica", afirmou o francês.
Sobre o segundo tema, o plano europeu é de impor perda de 50% a 60% da dívida em mãos do setor privado, quase o triplo dos 21% acertados com os bancos em julho. Mas falta negociar com o setor privado. "Cada um tem que assumir suas responsabilidades para evitar uma catástrofe", afirmou Sarkozy. Ele insistiu que os bancos devem aceitar a perda de maneira "voluntária"", um eufemismo para dizer que terão de engolir a perda, e evitar que os mercados declarem a Grécia em "default", causando um terremoto comparado à quebra de Lehman Brothers em 2008.
Apesar de medidas de austeridade adicionais exigidas pela Trioka (União Europeia, Banco Central Europeu e FMI), a conclusão é de que a Grécia precisa de mais socorro financeiro. A deterioração da economia grega tem sido muito mais severa, as privatizações estão bloqueadas. O governo vai demitir mais funcionários e cortar salários e aposentadorias em até 20%, mas os parceiros europeus exigem mais.
O Instituto Internacional de Finanças (IIF), que representa os maiores bancos do mundo, avisa que nada está acertado e duvida de um entendimento sobre a redução da dívida grega no curto prazo.
Sobre maximizar os recursos do EFSF, ficou clara ontem uma derrota para a França, mas um acordo possível na quarta-feira. A ideia francesa de transformar o fundo em banco, para que pudesse pegar recursos no Banco Central Europeu, foi enterrada. Restam duas opções em estudo, uma delas para o fundo dar garantia parcial à emissão de novos bônus de países em dificuldade.
A capacidade atual do EFSF é apenas de € 250 bilhões, comparado com a necessidade de emissões pela Espanha e Itália de € 1 trilhão até 2014. Outra ideia seria de fundir o EFSF com o futuro Mecanismo de Estabilidade Europeia (ESM), previsto para operar a partir de 2013 inicialmente com € 500 bilhões.